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Contos por contar

Contos por contar

25
Abr22

Em Coz há um lugar de magia na Adega das Monjas!

Cristina Aveiro

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Ia em deambulação por terras de Cister, procurando ver e sentir por fora o Mosteiro de Cós (Mosteiro de Santa Maria de Cós), com o projeto de voltar para visita mais demorada de descoberta do seu interior. Parei mesmo ao lado em contemplação quando senti vida no espaço do outro lado do largo, a porta convidava a entrar e observar. Foi o que fiz e desde que entrei não parei de admirar e sorrir.

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O espaço cheio de magia secular, a vida e o som do tear a bater o junco fazendo uma nova obra nascer embalado no sorriso imenso do tecelão, o sorriso doce da senhora que escolhia o junco seco, rejeitando os escuros que não podiam ser usados e o olhar brilhante e feliz de Eurico Leonardo que me ia encaminhando na descoberta do projeto Coz Art e das obras.

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O tradicional e as novas interpretações desta arte, integradas na moda, decoração e descoberta de novas utilidades, mochilas, floreiras, ecopontos, cestas do pão ou revestimento para garrafas e garrafões. Este pulsar de sangue novo veio também do contributo dos alunos da Escola Superior de Artes de Caldas da Rainha que em trabalho conjunto com os artesãos fizeram nascer novas interpretações.

Uma bela "ceira" veio comigo, cheia de modernidade e vida como mala de verão, vieram também as maçãs Fugi de sequeiro cheias de perfume doce da terra. Ficou-me a enorme vontade de voltar, experimentar o tear, se me deixarem… e contemplar com tempo o belíssimo Mosteiro cumprindo um sonho antigo, mas agora ainda com mais vontade de regressar.  IMG_9308.jpg

Fiquei também feliz por saber que podemos encontrar estas belezas no Castelo de São Jorge em Lisboa!

 

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27
Mar21

Vamos ajudar

Cristina Aveiro

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Era uma vez um menino que era traquinas, sempre pronto para a brincadeira, corridas e que adorava aprender sobre tudo o que estava à sua volta. Tanto gostava de saber algumas coisas que os professores ensinavam, como gostava de saber como as outras senhoras da escola faziam os seus trabalhos, como a cozinheira tratava de fazer a comida para toda a gente na escola, ou como o senhor que consertava tudo o que não funcionava arranjava as coisas. O menino também gostava de aprender com os outros rapazes lá da escola. Interessavam-no as coisas que os mais velhos faziam, em especial os que faziam coisas diferentes e de que os adultos não gostavam. Bem cedo aprendeu a subir para o telhado do pavilhão com os mais velhos, que se esgueiravam trepando a caleira controlando quem estava a tomar conta do recreio, ou fazendo e dizendo disparates na aula para que o pusessem de castigo fora da sala e assim pudesse andar a explorar todos os cantos do enorme jardim e campos da escola sem o incomodarem.

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Tinham ficado fascinado quando um dos seus amigos crescidos tinha sido mandado de castigo para a biblioteca fazer um trabalho e fazendo de conta que estava a procurar livros, tinha passado todo o tempo a trocar os livros de lugar nas prateleiras religiosamente ordenadas com os seus número e códigos. No final o seu amigo tinha ido embora como se nada tivesse acontecido. Claro que a bibliotecária quando viu a revolução e caos que por ali havia ficou totalmente transtornada, parece até que teve um chilique e teve de ser socorrida. O menino admirava a coragem e imaginação do amigo, mas nunca seria capaz de fazer uma coisa assim, ele gostava de arriscar e até às vezes arreliar um pouco, mas não gostava de magoar as pessoas e quando fazia asneiras, desobedecia ou arreliava os adultos, assumia sempre o que tinha feito, abria a sua cara morena num sorriso largo e prontamente pedia desculpa e tinha uma atitude respeitosa. Muitas vezes quando conversavam com ele e lhe pediam que não fizesse aquelas coisas e prometesse não repetir, ele com um olhar meio triste dizia que não podia prometer porque não ia conseguir cumprir.

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Desde muito cedo o menino se habituara a ter de cuidar de muitas coisas suas e do casebre imundo onde viviam e a que chamavam casa. A sua família era diferente da dos seus amigos, sabia que tinha um pai, mas nunca o tinha visto. Vivia com a mãe e com dois cães que guardavam a entrada do pátio da casa miserável. A mãe tinha muitas dificuldades de todo o tipo, não tinha um trabalho certo, ia trabalhando aqui e ali, cultivava algumas coisas num terreno ali perto, tinham meia dúzia de galinhas e pouco mais acontecia. Nunca corria muito bem o que a mãe fazia, parecia que estava sempre na Lua, esquecia-se de regar, ou de ir para o trabalho que tinha dito que ia fazer, não reparava que a casa estava suja e não a limpava ou arrumava e tudo isto tornava a vida do menino difícil. Como viviam numa aldeia e todos se conheciam, havia sempre alguém que ia ajudando, com comida, com roupas para o menino, com uma mobília que tornasse a casa menos desconfortável e até gostariam de fazer mais, como limpar ou organizar melhor as coisas, mas a mãe do menino não autorizava porque aos olhos dela as coisas estavam como deviam estar. As pessoas da aldeia também continuavam sempre a oferecer à mãe pequenos trabalhos para ela poder ir fazer e ganhar o suficiente para viver. Sabiam que muitas vezes a mãe não conseguia fazer um trabalho como devia ser, mas preferiam pagar-lhe pelo que ela conseguia fazer do que simplesmente dar-lhe dinheiro para ajudar.

Como o menino era muito, mas muito inteligente, pronto para participar em projetos práticos e tinha aquela atitude natural de cavalheiro de sorriso do coração todos o conheciam e gostavam muito dele. Na escola conheciam as dificuldades da sua família e tentaram sempre dar-lhe o que lhe pudesse faltar no seu berço, desde coisas a afetos, conversas, conselhos e um enorme carinho. O menino sentia-se feliz e acompanhado na aldeia como na escola.

Um dia os professores estavam a organizar uma campanha de recolha de alimentos para ajudar famílias com mais necessidades e pediram a todos os alunos que pudessem para trazer de casa um alimento que não se estragasse para a recolha. Nas aulas conversaram sobre as dificuldades de algumas famílias e tinham decidido: - Vamos ajudar! Os meninos levaram até um papel para casa para darem aos pais e falarem sobre o assunto.

O menino guardou o papel para si pois a sua mãe não sabia ler e ele nem tão pouco ia falar com ela sobre a campanha. Tratou de ir ao seu mealheiro onde guardava as moedas que lhe davam quando ajudava a fazer algum pequeno trabalho aos seus vizinhos e foi à mercearia da aldeia comprar um pacote de farinha. No dia seguinte levou-o para a escola e entregou à professora. Tinha sido o único menino a trazer o alimento e notou que a professora tinha ficado estranha quando ele lhe tinha entregado a farinha. O menino perguntou então, preocupado, se não era para trazer já e a professora sossegou-o e disse que sim que ele tinha feito muito bem e que agradecia.

Logo a seguir a professora disse que tinha que ir buscar giz e saiu rapidamente da sala. Assim que os alunos já não a podiam ver as lágrimas teimosas desceram pela cara abaixo. Como é que podia ser tão verdade o que sempre tinha ouvido “quem menos tem é quem mais dá a quem precisa”.

 

 

12
Dez20

A Casa Sem Fim

Cristina Aveiro

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Era uma vez um casal de idosos que tinham uma casa na praia. Era uma casa estranha porque parecia que continuava sempre a estar em construção. Eles tinham começado a fazer aquela casa quando ainda era muito novos e nem sequer tinham filhos. Fizeram os projetos, vieram os pedreiros, construíram e puseram o telhado, as janelas, a porta. Mas havia partes da casa que continuavam por completar, o portão da garagem era feito de tábuas da obra, pelo quintal estavam tábuas, andaimes, a máquina de fazer a massa, areia, cimento, as varandas não tinham grades,… enfim estava meio feito, meio por fazer.

Durante muitos anos tudo ficou assim, parecia que o tempo tinha parado, que tinham interrompido o filme. As persianas das janelas já estavam a ficar velhas, as paredes da casa já tinham rachas e havia zonas onde tinha caído a cobertura das paredes como acontece nas casas muito velhas, mas aquela casa era estranha, por um lado já estava velha, mas por outro lado, ainda não estava terminada.

Um dia o casal voltou e instalou-se no primeiro andar da casa. Começaram a trabalhar os dois na casa. Primeiro retiraram o telhado, as telhas, a estrutura, depois começaram a erguer paredes e construíram mais um andar, e a seguir ainda outro, e a cobertura. Esta nova zona tinha aberturas de janela muito maiores, mais modernas, mas em baixo tudo estava na mesma. Até o portão da garagem provisório em tábuas continuava lá.

O senhor costumava andar com um gorro vermelho na cabeça, botas grossas e calções compridos, a senhora usava lenços na cabeça, calções longos e camisolas largas de trabalho. Estavam sempre só os dois a trabalhar, a subir os materiais com um pequeno guincho, a acabar uma parede, a montar um andaime, … Tudo era calmo na forma de eles trabalharem e era também estranho e diferente. A senhora estava a pintar a parede do lado de fora da zona mais alta da casa, mas ao lado havia uma zona onde os tijolos ainda nem sequer tinham sido cobertos com massa.

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Quando as pessoas passavam por ali ficavam sempre a olhar e estranhavam aquela casa que era diferente de todas as que tinham visto. Às vezes eles almoçavam no topo da casa num terraço em construção, pareciam estar numas férias de sonho, tal era a alegria que transmitiam a quem os via.

Os anos foram passando e aqueles idosos continuavam sempre os trabalhos, iam acabando as zonas novas que tinham construído na sua forma desordenada que costumavam seguir. Quando tudo o que estava de novo ficou terminado começaram a reparar e a remodelar as zonas mais antigas que já precisavam de obras. Agora os trabalhos andavam muito mais lentamente, eles estavam mais velhos, tinham menos força e energia, mas continuavam a trabalhar.

Veio um dia e eles não trabalharam, depois outro e outro e continuaram a não ser vistos nas suas tarefas de construção. Os vizinhos das casas à volta estranharam e foram ver o que se passava. Os idosos estavam na casa, sentados, com um ar muito desanimado e triste. Os vizinhos perguntaram o que se passava e eles disseram que já não conseguiam fazer os trabalhos na casa porque os seus corpos já não tinham energia e força e que não  terminar a casa antes de morrer os deixava muito tristes.

Os vizinhos sentiram que tinham que ajudar a cumprir o sonho daqueles idosos que há tantos anos os intrigavam com as suas estranhas obras intermináveis. Organizaram-se em equipas e depois de escutarem os planos que o casal tinha por concretizar puseram mãos à obra.

Como eram muitos conseguiram terminar tudo o que estava planeado em menos de um ano.

Finalmente a casa estava terminada, era estranha e diferente de todas as daquela praia, e mesmo de todas as praias conhecidas.

No jardim da casa fizeram uma grande festa para alegrarem o casal de idosos que estava contente e agradecido. A casa passou a atrair visitantes e todos os locais para a verem, e durante alguns anos ainda podiam ver o casal de idosos que descansava na varanda orgulhoso da sua obra. Os vizinhos passaram também a fazer parte dos últimos anos da vida do simpático casal.

Quando morreram a casa foi oferecida àquela comunidade para servir de abrigo às pessoas que precisavam e também para as crianças virem para aquela praia para colónias de férias.

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