Sol de Inverno
#5 - Azul Cobalto - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor
O Inverno já ia longo, cheio de dias e dias cinzentos, frio, chuva e mais chuva. Estavam cansados, tinham umas saudades enormes do Verão e da vida junto ao mar. Naquele sábado amanheceu um dia de sol radioso e eles nem pensaram duas vezes, todas as tarefas dos sábados ficaram adiadas. Correram no seu carrinho, atravessaram o pinhal do rei e foram até ao mar de São Pedro de Moel. Depois rumaram a Sul, deleitando-se com tudo o que a estrada atlântica tem para oferecer nos dias de Inverno. Poucos carros, céu límpido, mar calmo como se fosse Verão e daquele azul que enche a alma.
Pararam no Sítio da Nazaré. Pousaram o olhar na vista aérea sobre o casario nazareno, a praia vazia abrigada pelo morro que é o maior para-vento que conheço. Sabiam de cor aquela imagem, mas de quando em quando, o olhar precisava de lá ir, de a rever, de a sentir, de ser banhado pela brisa que ascende guiada pela parede quase vertical até ao mítico cimo. A seguir, o ritual incluía uma descida pelo ascensor que os continuava a fascinar no seu movimento calmo e constante já lá ia mais de um século. A descida suave até ao casario, o contorno de flores dos catos no seu laranja escuro e exótico que bordejava o percurso, fazia parte da viagem que nunca deixava de os fazer sorrir e sentir-se maravilhados.
Depois era deambular pelos recantos da vila, regalar os olhos com as casas branquinhas, com as suas barras azul-cobalto, amarelo mostarda, ou vermelho. Gostavam especialmente dos recantos mais elevados onde pela frente só há o mar, onde o sol se põe e quem lá vive nas suas minúsculas casas se sente rei e não as trocaria por nada.
Na vila ainda se encontram muitos homens e mulheres que orgulhosamente continuam a vestir-se no dia-a-dia com os trajes tradicionais. É única a forma como com naturalidade continuaram a pontear a paisagem com algo que, por cá, só se vê em museus ou momentos de folclore.
O passeio nunca fica completo sem percorrer a marginal, rever os barcos garridos no areal, parar nas peixeiras que secam e vendem ali o carapeto (carapau escalado seco), a petinga e uma ou outra delícia que o sol curtiu.
À medida que o sol vai descendo rumo ao fim do dia, é bom fazer o percurso reverso, como que fazendo um misto de até breve e gravando as imagens pintadas com a luz mais alaranjada que quase chega ao dourado. Voltamos a casa e no coração trazemos um bocadinho de Verão para amenizar os dias de Inverno.
Texto no âmbito do #5 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Azul Cobalto
Neste desafio participo eu, a Oh da guarda peixe frito, a Concha, a A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, o José da Xâ, a Rute Justino, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, e a bii yue.
Todas as quartas-feiras e durante 12 semanas publicaremos um texto novo inspirado nas cores dos lápis da caixa que dá nome ao desafio. Acompanha-nos nos blogues de cada uma, ou através da tag "Desafio Caixa de lápis de Cor". Ou então, junta-te a nós :)