O Rouxinol Triste - Um conto de Laura Ramos e Cristina Aveiro
Era uma vez um pássaro com penas de tons acastanhados, uma cauda comprida arruivada que se via melhor quando estava a voar. Vivia nas margens de uma ribeira com árvores frondosas e muito matagal nas amplas planícies douradas e ressequidas do sol. O pássaro era pequenino e muito tímido, estava sempre escondido entre a vegetação e ninguém o conseguia ver porque passava o tempo todo bem camuflado no meio das densas ramagens. Andava a construir um ninho numa pequena moita junto ao chão. Todos os dias ia buscar pequenos galhos e folhas que moldava de modo a fazer uma pequena taça muito densa e resistente. Depois desta primeira etapa começava a procurar ervas finas que colocava gentilmente a revestir o interior da cavidade do ninho. Depois procurava pelos de outros animais e penugem que ia perdendo para tornar o interior do ninho ainda mais fofo e aconchegante. O rouxinol sonhava com uma companheira para ocuparem juntos o ninho que estava a construir com todo o carinho. Mas o rouxinol tinha um grande problema, ele sabia que as suas penas não eram coloridas como as dos guarda-rios que ele via constantemente no rio a esvoaçar e a pescar.
Os guarda-rios tinham penas de um azul brilhante e luminoso na cabeça e no dorso e tinham as penas do peito e da barriga de um laranja intenso, nada como as suas penas pardacentas sem nada de especial.
Admirava também a Popa que elevava as penas do alto da sua cabeça e ficava mais alta e toda ufana com a sua bela popa claro está.
Gostava também das pegas-rabudas com a sua elegância, vestindo penas pretas e brancas, a sua longa cauda negra que pareciam um noivo vestido com o seu fraque.
A perdiz também se destacava com o seu bico e pernas vermelhos, a sua lista negra junto aos olhos que até pareciam pintados e as suas asas às riscas como não havia igual.
O rouxinol achava que o seu corpo nada tinha de cor, de beleza ou elegância e isso enchia-o de tristeza, deixava-o preocupado, achando que talvez nunca fosse encontrar uma parceira para o seu ninho. Na sua tristeza sentia-se um pouco melhor quando cantava e então cantava sem parar, de dia e de noite. Cantava bem alto uma variedade enorme de assobios, trinados e gorgolejos. Nas noites calmas e silenciosas o seu cantar era ouvido por toda a planície, todos esperavam o momento em que cantava “tu-tu-tu-tu-tu” em crescendo, cada vez mais forte. O seu canto atraiu numerosos admiradores, mas o que maior alegria trouxe ao rouxinol foi uma jovem fêmea que se aproximou timidamente. O rouxinol continuou a cantar mas já não tirou os olhos dela, tinha ficado fascinado, quase nem acreditava que ela estava parada a olhar para ele.
O rouxinol e a sua companheira tornaram-se inseparáveis, puseram quatro lindo ovos e nasceram uns belos rouxinóis bébés. O canto do rouxinol continuou a ser admirado por todos, as pessoas até inventavam canções a falar do passarinho que cantava pela noite fora e quando queriam dizer a alguém que cantava bem, diziam:
- Canta como um rouxinol!
O rouxinol aprendeu que tinham um dom inigualável, não precisava de penas coloridas, bico especial ou outra coisa que não tinha. O rouxinol, tal como todos nós tinha algo de muito especial que era só seu e que todos admiravam. Descobrir a beleza e o poder do seu canto acabou com a sua tristeza e as suas dúvidas. O rouxinol agora queria ensinar tudo o que sabia aos seus filhotes, em especial ensinar-lhes a acreditarem em si e a gostarem de si como são, porque todos somos especiais.
Podes escutar um rouxinol a cantar: