Um objeto quotidiano
#5 - Desafio 30 dias de escrita da Ana de Deus
A nossa relação começou pouco depois de nascer a segunda filha. Antes o meu coração era de um mais dinâmico e fogoso corcel, leve e desportivo que por essas alturas começou a manifestar os efeitos de uma vida longa e muito vivida. Na verdade, deixar ir o meu primeiro e amado tapete voador foi doloroso, no fundo ele tinha assumido o papel de melhor amigo, daquele que me levava onde eu quisesse, devagar ou depressa, com os cabelos ao ventou ou bem aconchegada. Ainda hoje tenho um carinho muito especial por esse companheiro de tantas e tão inusitadas aventuras tão próprias de quem começa a palmilhar o mundo pelos seus próprios pés e vontade.
O segundo amor foi bem mais difícil de alcançar, ao início tudo nele me enfadava, era robusto mas muito prudente, nada de fogoso corcel, a segurança e calma imperavam e as corridas mais empolgadas tinham acabado, não eram para ele. As meninas gostavam do novo tapete voador, tinha espaço, mais conforto, mas eu sentia que tinha um lastro pesado que me acorrentava e pegava ao chão.
Com o passar dos anos e já lá vão vinte fomos passando a ter uma grande cumplicidade, agora já começo a pensar que não quero que parta, gostava muito que me acompanhasse mais tempo nesta nossa viagem que é a vida!
Texto escrito no âmbito do desafio 30 dias de escrita lançado pela Ana de Deus, e em que participam Ana de Deus, bii yue, João-Afonso Machado, Jorge Orvélio, José da Xã, Maria Araújo e eu.