Recordações do Pinheiro de Natal e do Presépio
Quando chegava Dezembro e começava o Advento as crianças começavam a fazer planos para o presépio e para o pinheiro de Natal. Perguntavam quando é que iam ao pinhal escolher a árvore e apanhar o musgo para fazer o presépio e insistiam na esperança de apressar os pais. Os pais iam dizendo que ainda faltava muito tempo, mas as crianças estavam ansiosas por voltar a ver aqueles objetos mágicos que só estavam presentes naqueles poucos dias do ano.
Ir ao sótão buscar a caixa de cartão onde descansavam durante todo o ano as figuras do presépio, os enfeites, as fitas e luzes da árvore de Natal era um momento de imensa alegria. Tudo parecia novo e ainda mais bonito do que se lembravam. Aquela velha caixa encerrava pedacinhos da magia do Natal que se espalhavam e enchiam a casa assim que as crianças voltavam a ver o que estava lá dentro. Todos os anos pediam mais algumas figuras para o presépio e queriam ir ao mercado com os pais para verem o que havia de novo, talvez um pescador, um marceneiro, um anjo, ou mesmo outro pastor com ovelhinhas. Quando a mãe concordava em comprar mais uma e outra figura eles ficavam contentes, mas queriam sempre mais e ficava combinado: para o ano há mais, não podemos levar todas agora!
Foto: Olhar Viana do Castelo
E finalmente chegava o dia de ir ao pinhal procurar um pinheiro jovem que tivesse nascido junto a outros e que não tivesse espaço para crescer bem. Procuravam também o que tivesse os ramos mais fartos e bem ordenados. A seguir iam com a enorme bacia procurar o musgo. À medida que iam andando pelo pinhal e pisavam a caruma e a terra fofa libertava-se um aroma puro a floresta, madeira e ervas silvestres que tornavam esta busca inesquecível. De repente viam um enorme arbusto de gisbardeira e pediam logo para apanhar uns belos ramos para pôr no presépio, ou para a jarra da sala.
Mais à frente as cores de Natal voltavam a brilhar num enorme pilriteiro, repleto de bagas vermelhas a que as crianças chamavam peras do menino Jesus e as quais gostavam de comer. De novo queriam também levar para casa uns ramos deste arbusto para ajudar a trazer o ambiente natalício para casa. Quanto ao musgo era toda uma variedade, do mais envelhecido e compacto, ao mais viçoso e delicado, procurando variedade de cores e texturas. Quando a bacia ficava cheia, ainda queriam continuar a busca, parecia que não queriam que aquela tarefa feliz acabasse.
Em casa era uma azáfama a colocar o pinheiro num vaso, colocar pedras e areia para fazer peso. Começavam então a pendurar os bugalhos pintados de dourado, os sinos e as estrelas feitas de cartão grosso e embrulhadas nas pratas dos chocolates para brilharem festivamente. Penduravam também uns pequenos pais natais vestidos de vermelho em chocolate que eram uma verdadeira tentação, mas que não podiam comer senão a árvore ficava despida.
Havia também umas grinaldas prateadas e douradas que as crianças adoravam. Costumavam também pôr bolinhas de algodão branco para parecer neve. Depois de tudo estar no seu lugar as crianças olhavam contentes para o seu pinheiro, mas ficavam sempre a pensar como o poderiam tornar perfeito como aqueles que apareciam nos postais, ou nos desenhos das histórias. Os pinheiros de Natal que enfeitavam eram sempre meio escangalhados com as braças muito espaçadas e erguidas ao céu, não tinham as braças simétricas a descer graciosamente como um véu como nas árvores de Natal perfeitas dos livros e da televisão. Sonhavam também com belas bolas de vidro vermelhas grandes e brilhantes e mesmo com luzes, mas isso eram sonhos. Afinal o pinheiro de Natal estava muito bonito e enchia a casa com o seu cheiro a resina e a chocolates.
O presépio começava com o espalhar do musgo criando vales e montes, montando as pedras que encaixavam para formar a gruta do menino, traçando os caminhos com serradura, deixando correr os rios com as pratas dos chocolates guardadas ao longo do ano, pondo ramos e pinhas fechadas a fazer de árvores e florestas com neve, … e havia sempre novos planos e acrescentos. A alegria que era colocar as figuras, as casinhas, as pontes, a lavadeira, os pastores, o anjo e claro a magia dentro da gruta. Quantas vezes iriam ajeitar o menino, a Senhora e São José durante aqueles dias especiais em que a casa tinha o seu presépio. Nestas andanças havia sempre algumas figuras que não estariam no ano seguinte, mas a alegria de sentir e poder mexer no seu presépio era imensa e ficava para sempre.
As crianças cresceram, continuaram sempre a gostar de fazer o presépio e a árvore de Natal. Agora tinham árvores “perfeitas”, ideais para pendurar os enfeites, sem zonas peladas e vazias, mas estas árvores não tinham aquele cheiro a resina, a caruma verdinha como tinha a árvore de Natal da infância que afinal era imperfeitamente perfeita.