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Contos por contar

Contos por contar

14
Nov20

A Maria Birras & Alegrias

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma menina pequenina de pele clara, carinha redonda, cabelo aos caracóis e uns olhos verde-acinzentados que só de olhar faziam mil perguntas. A menina chamava-se Maria e gostava muito de ver e entender tudo o que estava à sua volta. A sua mãe costumava dizer que a Maria estava sempre com as anteninhas no ar porque era muito atenta e queria saber as coisas, como se fazia, porque era assim, como se chamava isto e aquilo, como funcionava, … Os adultos ficavam encantados por poder falar de tantas coisas  para lhe responder às perguntas, muitas vezes ficavam algum tempo a pensar antes de lhe responderem.

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Chegou um tempo em que começaram a vir umas nuvens cheias de birras que pareciam chover em cima da Maria. Na hora do banho, quando a mãe lhe dizia que era para ir para a banheira, levantavam-se nuvens muito grandes e escuras. A menina desatava a chorar e dizia que não, não queria tomar banho, tomar banho era uma nojeira, não ia, … A mãe parecia que não ouvia, nem via a birra e com calma ia despindo a menina e dizendo que tinha que ser, que era preciso, que a água estava quentinha, que a Maria gostava de brincar com os brinquedos do banho,… mas a menina continuava na birra. Mesmo depois de entrar na água ainda continuava por mais um bocadinho. No banho parecia que a nuvem das birras tinha desaparecido, só voltava um bocadinho quando era para lavar a cabeça. Depois de estar toda lavadinha a mãe deixava-a ficar a brincar com o patinho amarelo, com o termómetro tartaruga, a râ nadadora e os brinquedos da praia que também tinham lugar nas brincadeiras da banheira.

Quando a água já estava a arrefecer a mãe dizia que o banho tinha acabado e era altura de sair, vinha novamente uma nuvem cheiinha de birras de tamanho gigante. Não, não queria sair do banho, queria ficar, não a água não estava a ficar fria, e claro era birra com choro, boca bem aberta e lágrimas a cair na água do banho.

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A mãe dizia-lhe então, mas tu nem querias vir para o banho, como é que agora não queres sair. A menina parecia nem ouvir, penso que não ouvia mesmo, é que as nuvens das birras fazem tanto barulho que ninguém se ouve quando elas estão por aí.

Com muita paciência, a toalha de banho especial com o capuz bordado com as baleias, muito mimo e creme no corpo para cuidar da pele delicada, a Maria lá ia acalmando. No fim de estar vestida era hora de ir jantar…

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Já se está mesmo a ver que as nuvens iam voltar. E voltavam mesmo, não queria ir para a mesa, não tinha fome, não gostava daquela comida, … Então o pai dizia-lhe que a ia ajudar e ao mesmo tempo lhe ia contar uma história e começava a fazer palhaçadas, então as nuvens começavam a desaparecer de novo. No fim do jantar às vezes o pai perguntava à mãe se podia ser um icecream e a menina dizia logo que sim.

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Os pais costumavam dizer alguns segredinhos entre eles em inglês, mas havia algumas palavras mágicas que a Maria já conhecia e icecream era uma delas.

Um pouco de brincadeira depois do jantar e lá chegava aquela hora de que a Maria nunca tinha gostado. A hora de ir para a cama! Claro que voltavam as nuvens, claro que não tinha sono, ainda queria brincar mais, não queria ir para a cama, só mais um bocadinho, … e pronto lá vinham os pingos da birra, lágrimas pela carinha abaixo.

Já na cama, ainda havia tempo para um  bocadinho de brincadeira com a irmã pequenina e voltava a alegria de novo.

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Quando o pai ou a mãe vinham até à sua cama, e se sentavam ou deitavam ao seu lado, lá chegava a hora de ler uma história. Muitas vezes a menina escolhia a mesma do dia anterior e ouvia-a dias seguidos e ficava feliz. A menina queria sempre mais histórias e muitas vezes a mãe dizia que estava cansada de ler e que ia contar uma história inventada. Qual é o animal da história hoje?- perguntava a mãe. A menina escolhia. Então a mãe começava,...

Era uma vez um coelhinho pequeno que não queria ficar na toca e queria ir com a mãe à horta. A mãe disse-lhe que não podia ser porque era longe e podia ser perigoso e por isso tinha de ficar. O coelhinho começou a bater com as patas no chão com força e começou a chiar fazendo muito barulho e uma grande … birra. E a história continuava.

A menina ouvia, ficava um pouco pensativa e dizia à mãe, eu já não quero fazer mais birras, mas às vezes não consigo. A mãe abraçava-a e dizia-lhe que ia conseguir, quanto mais crescia mais forte ia ser.

A menina dizia que nunca mais queria que a Maria Birras voltasse porque essa não era ela, ela era só a Maria.

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