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Contos por contar

Contos por contar

13
Mar21

O Livro Esquecido

Vamos proteger uma espécie em vias de extinção - "leitores leituras"

Cristina Aveiro

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Era uma vez um livro pequeno, aí com umas 20 páginas, pouco alto e pouco grosso e já tinha muitos anos. Talvez pensem que é esquecido por não se lembrar das coisas já que é um pouco velho, mas não é nada disso. Ele lembra-se de tudo, desde quando foi feito na máquina de impressão, aos tempos que passou na prateleira daquela livraria grande, majestosa e ao mesmo tempo colorida e cheia de vida. Ele até tinha ouvido dizer que agora as pessoas iam lá só para ver a beleza da livraria, mas não sabia se era verdade.

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Então as pessoas não iam às livrarias para admirar e comprar os livros que liam? Ele pensava que sim, mas já não tinha a certeza. Os tempos eram outros quando ele lá tinha estado na prateleira. Depois de muitas vezes ser admirado, folheado, lido aos bocadinhos, de ter sido pedido de presente aos pais pelas crianças que iam à livraria, lá chegou o grande dia. Ia finalmente ter o seu lar definitivo. chegou uma senhora jovem e foi à seção de livros infantis e juvenis e passou um dia inteiro a escolher e a colocar em enormes pilhas. Foi nesse dia que saiu da prateleira da livraria para não voltar. Adorou o lugar onde foi viver, era uma sala luminosa, cheia de livros, muitas e muitas estantes cheias de prateleiras repletas de livros de todas as cores tamanhos e feitios.

Era uma biblioteca! Mas era uma biblioteca de uma enorme casa que tinha umas vinte salas enormes. O livro estava feliz, tinha um lugar de destaque nos novos livros para crianças e a horas certas elas enchiam a biblioteca e desfolhavam os livros, tentavam ler, outras liam para os amigos, às vezes levavam livros para as salas grandes e outras vezes levavam mesmo os livros para casa para lerem e contarem às suas famílias. Oh, como eram tempos felizes, andar de mão em mão e na companhia dos outros livros seus amigos. Frequentemente as crianças disputavam quem é que o ia ler ou levar para casa. Sentia-se amado e querido, sentia que tinha um propósito, uma missão mesmo.

Mais tarde começaram a vir menos crianças à biblioteca e vinham muitas vezes ver filmes, ver os computadores, e agora até usavam muito os seus pequenos telemóveis e parecia que já nem olhavam para os belos livros nas prateleiras. O pequeno livro até já tinha ouvido dizer que os leitores eram uma espécie em vias de extinção, já quase só havia leitores muito velhos.

O livro pequeno e outrora colorido com cores intensas e felizes, tinha as cores esbatidas e sentia que tinha sido esquecido. Estava para ali como um velho que não servia para nada, numa prateleira a apanhar pó.

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Um dia chegou uma menina diferente à biblioteca, ela já era crescida e parecia saber muito bem o que ia fazer. Vinha vestida com roupas de Capuchinho Vermelho, uma história que era contada em vários livros seus amigos. A menina trazia um cesto muito bem decorado e um pouco grande que começou a encher com livros. Os livros estavam todos contentes, afinal iam até algum lado, iam arejar. Bem precisavam! Depois de encher o cesto a menina foi a uma das salas grandes e pediu ao professor se podia trazer algumas surpresas para os meninos. Ele disse que sim de imediato. Então a menina tirou um e outro livro e leu bocadinhos ao acaso de cada um deles. As crianças pediam que contasse o resto, mas a menina disse que não era essa a sua missão. Algumas fatias de livro mais tarde, os meninos já estavam com o bichinho da curiosidade aguçado e a menina explicou que se queriam saber o resto das histórias iam ter de ler e que ela podia emprestar alguns livros, mas avisava já que não havia livros para todos. Ao dizer estas palavras piscou o olho ao professor que a observava divertido. E os meninos lá foram pedindo os livros que queriam e quando a euforia terminou, o Lourenço disse admirado:

- Afinal há livros para todos! Não faltam para ninguém e ainda tem mais no cesto.

A menina “Capuchinho Vermelho” sorriu e disse que estavam com sorte, mas só tinham os livros com eles até à próxima semana porque os livros tinham que ir viajar de novo na sua cestinha.

O livro passou uma semana em beleza a ser lido e contado a todos da família do menino e depois mesmo na sala grande com o professor. Até tinham feito desenhos com a sua história, estava mesmo feliz. Mal tinha sido posto de novo no seu lugar da prateleira da biblioteca chegou um rapaz com uma roupa diferente, ele achava que também era de uma história, ele não tinha a certeza, mas aquele rapaz de óculos redondos, capa preta, sempre com uma varinha na mão fazia-lhe lembrar o personagem de uma história. Achava que se chamava Harry e era de uma coleção de livros recentes. O rapaz chegou à biblioteca e começou a encher caixotes e caixotes de madeira bonitos, que pareciam antigos, dos que antes de haver plástico serviam para levar as frutas ao mercado.

Os livros todos ficaram num frenesim de curiosidade, para onde iriam desta vez? Que aventura os iria agora arrancar de novo ao tédio das prateleiras esquecidas e quase mortas?

Quando já havia uma enorme pilha de caixotes, o tal rapaz levou-os para o recreio, um espaço enorme cheio de crianças alegres a correr, saltar, gritar, enfim, a ser crianças.

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Aproximou-se de uma zona abrigada onde já estavam montada três barraquinhas de feira, todas bonitas e onde o rapaz e a menina vestida de Capuchinho Vermelho começaram a colocar os livros de uma forma quase irresistível, estava tão bonito que só de olhar apetecia levar tudo para casa. As crianças foram-se aproximando curiosas e à medida que os livros iam enchendo as bancadas todas começaram a querer mexer, ver, ler um pouco, como quem escolhe e prova a fruta antes de comprar.

Quando tudo ficou pronto colocaram um enorme cartaz que dizia:

- Aluguer de livros – 1 semana por um desenho sobre a história!

A notícia caiu como uma bomba. Então os livros que eram da biblioteca agora eram para alugar? Todos tinham o direito de os levar e não tinham que pagar nada por isso. Houve logo um grupo de crianças que disse que não queria alugar, nem pagar, mas que gostava muito de fazer desenhos e queriam levar um livro cada um. O Harry e a menina Capuchinho Vermelho explicaram que o pagamento do aluguer era mesmo o desenho e que claro que podiam levar os livros.

O nosso livro esquecido estava numa zona de livros de contos infantis mais antigos e começou a pensar que as crianças iam preferir os livros novos mais coloridos, mas estava contente só de estar ali a ver toda aquela agitação e alegria.

Quando já estavam a começar a arrumar a banca, veio uma das senhoras que trabalhava na escola e perguntou se também podia alugar o livro e trazer um desenho da sua sobrinha a quem ia ler a história. Claro que o Harry e a Capuchinho disseram logo que sim, que escolhesse. A senhora foi para a zona dos livros mais antigos e disse, vou levar este, adoro-o, já a minha mãe mo leu quando eu era pequenina, depois lio eu aos meus filhos e agora vai ser à minha sobrinha, adoro contar histórias, faz-me sentir feliz e sinto que faço as crianças felizes.

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O Harry e a Capuchinho ficaram comovidos, sentiram que tinha valido a pena e iam continuar a trazer os livros da biblioteca cá para fora, para virem até às pessoas, eles iam salvá-los de serem esquecidos.

 

16
Fev21

A princesa triste

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma princesa tão gorda que só ocupava espaço, pelo menos era isso que as damas da corte achavam. A princesa era diferente, nunca se tinha interessado por bordados, vestidos, casamentos ou coisas que tais. A princesa gostava de ler, escrever e desenhar, mas poucas eram as pessoas da corte que o sabiam fazer. O monge que a acompanhava desde criança era um mestre de iluminura e desde cedo que a tinha ensinado a ler e a escrever, muito para além da sua missão de orientador espiritual, mas esta era a sua forma de dar alegria àquela menina que era tão triste.

A princesa adorava os pais, mas eles estavam muito ocupados a reinar e nunca estavam com ela. A princesa sentia uma grande tristeza e a tristeza fazia-lhe imensa fome, era como se o seu coração triste tornasse o seu corpo vazio e ela tivesse de comer para o encher. Quando lia e escrevia sentia-se um pouco melhor, mas a maior parte do tempo continuava triste.

Havia também alturas em que a deixavam ir para o campo andar a passear e montar a cavalo, aí também se sentia mais feliz e nessas alturas não ficava tão gorda.

 

Texto no âmbito do Desafio "Era uma vez uma princesa tão gorda que só ocupava espaço" da Ana de Deus

 

 

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