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Contos por contar

Contos por contar

01
Jul24

O caranguejo eremita precisa de casa!

Cristina Aveiro

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Era uma vez um caranguejo eremita que estava radiante porque finalmente tinha conseguido encontrar a sua primeira casa, finalmente passara a ter a parte mole do seu corpo protegida. Que feliz estava, como se sentia seguro!

Que aventura tinha sido encontrar todos aqueles outros caranguejos que tal como ele precisavam de uma “casa”. Como tinha sido incrível aprender a fazer a fila perfeita para que ordenados por tamanhos, pudessem ocupar a casa do seguinte e deixar a sua para o anterior, ele claro, era o último da fila porque ainda não tinha casa alguma. Tudo começava no maior e na bela concha de búzio ou caracol que tinha o tamanho certo para o seu corpo crescido. Sendo o primeiro da fila, logo se colocava atrás o que precisava da sua bela concha que tinha vestido no último ano, e a seguir o de tamanho um pouco mais pequeno e por aí fora. Uma vez preparados a mudança tinha que fazer-se rapidamente para que não viesse ninguém se aproveitar do momento em que estavam despidos e fáceis de apanhar. Era uma dança rápida e certeira e depois da mudança feita lá iam todos contentes viver a sua vida na casa nova.

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BBC-David Attenborough

O nosso caranguejo ficava muitas vezes parado ao sol, perdido em pensamentos e a ver os outros caranguejos que ele tanto admirava. Admirava as suas cores, as suas carapaças fortes que cresciam com eles, a sua agilidade porque não tinham de carregar conchas pesadas às costas, enfim, tudo neles parecia melhor e mais belo do que aquele seu corpo frágil e incompleto.

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Um dia, ganhou coragem e perguntou a um caranguejo fantasma:

- Como é que fazes para ser tão invisível? Como consegues parecer igual à areia? Quem me dera ser como tu, não ter de me encolher todo na concha para não me atacarem.

O caranguejo fantasma olhou para ele surpreendido e respondeu:

- A sério? Gostavas de ser invisível? Eu não gosto nada! Quem me dera puder mudar de concha todos os anos como tu e estar sempre diferente dentro de uma casa forte e segura.

Afastaram-se sem saber o que dizer um ao outro. Cada um pensava que o outro adorava a sua vida e afinal não era como tinham imaginado.

Mais à frente o caranguejo vampiro, do alto da sua bela cor lilás disse:

- Eu adoro o vosso aspeto, tu caranguejo fantasma consegues ir onde quiseres e ninguém sabe, pois és quase invisível, tu caranguejo eremita tens todos aqueles amigos que se juntam e ajudam quando precisam de mudar as vossas casas. Eu, nesta minha horrível cor e com o nome de vampiro assusto todos e ninguém se aproxima de mim. Não sabem como é difícil a minha vida solitária.

Com tanta conversa, em menos de nada juntou-se um grupo enorme de caranguejos de todas as cores e feitios.

O pequeno caranguejo eremita não podia imaginar que houvesse tantos caranguejos e tão diferentes, no tamanho, na cor, nos olhos e nas pinças que nalguns casos eram mesmo assustadoras.

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Na enorme roda que se formou, havia alguns caranguejos eremita que tinham casas estranhas, não pareciam conchas e eles não pareciam nada confortáveis nelas. Havia mesmo um que apesar de ter uma casa que parecia um búzio continuava a parecer despido. 

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Os caranguejos ficaram ali a olhar uns para os outros e sem o dizerem todos estavam admirados porque afinal, uma coisa era certa, todos eram caranguejos…

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Photo by Rompalli Harish from Pexels

A maré começava a subir quando um pequeno caranguejo vermelho com olhos azuis muito estreitos e levantados começou a falar baixinho, um pouco envergonhado, mas muito determinado:

- Nós somos todos diferentes. Todos pensamos que tudo seria mais fácil se a nossa vida fosse como a do outro que estamos a admirar. Só cada um sabe como é a sua vida. Todos somos importantes, cada um é único e tem o seu caminho para seguir.

E continuou:

- O mar tem espaço e precisa de todos nós com as nossas cores, tamanhos e feitios, forças e fraquezas e nunca se esqueçam, todos somos caranguejos.

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Saber mais sobre este pequeno heroi...

Como vive...

Razões para não ter um caranguejo eremita no aquário

O lixo marinho e o caranguejo eremita

 

PS- Há muito tempo que não vinha a estas paragens do Sapal Encantado, mas hoje vim dar um mergulho. Foram inspiração os companheiros de escritas  Jose da Xãbusy as a bee on a rainy dayPessoas e Coisas da VidaOlga PintoUm pássaro sem poisoGeneralidades, green ideasAquém-Tejo, e muitos mais a quem sou grata.

 

20
Dez22

A Galinha sem Penas!

Ilustrações de Cristina Marto

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma galinha muito, muito vaidosa. Ela desde muito pequenina que era vaidosa e fazia tudo para dar nas vistas, tentava andar de uma forma diferente das outras galinhas, como se dançasse, tentava cantar fazendo sons diferentes das restantes galinhas. Um dia chegou ao capoeiro um grupo de novas galinhas que eram diferentes, não tinham penas no pescoço.

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Todas as galinhas, galos e frangos da capoeira ficaram muito intrigados com as galinhas sem penas no pescoço. A galinha vaidosa ficou muito perturbada porque todos estavam tão interessados nas galinhas que tinham acabado de chegar. Decidiu que tinha que voltar a ser o centro das atenções de toda a capoeira. Começou a pensar o que poderia fazer para que voltassem a dar-lhe atenção. Afinal ela era mais bonita, mais interessante e mais inteligente que essas galinhas sem penas no pescoço. Treinou de novo o seu canto e procurou fazer sons mais impressionantes, ensaiou novos passos dançantes, começou a praticar para voar mais alto do que a subida para o poleiro. Conseguiu fazer um canto mais impressionante, ainda mais esganiçado que antes, andou toda desengonçada, até parecia que lhe doíam as patas esgravatadeiras, os seus voos criaram grande alvoroço na capoeira, eram penas a cair e a andar pelo ar, ficavam todos incomodados com os voos da galinha, mas ainda assim as galinhas recém-chegadas continuavam a ser o centro das atenções no capoeiro.

 

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Decidiu que tinha que fazer alguma coisa mais radical, afinal porque é que ela não podia ter também o pescoço sem penas? E se gostavam tanto de pescoços sem penas, o que aconteceria se ela não tivesse penas nenhumas? Nunca se tinha visto nada assim. Ela tinha a certeza que nunca ninguém tinha visto uma galinha sem penas… Quem sabe se ela não se ia tornar uma galinha famosa em todo o mundo. Quanto mais pensava nesta ideia mais lhe parecia que era original e muito boa. Nunca lhe passou pela cabeça que se nunca tinha havido nenhuma galinha sem penas talvez isso não fosse uma boa ideia.

Convencida que a sua ideia era brilhante começou a tratar de a pôr em prática. Todos os dias à noite quando todos estavam a dormir arrancava as suas belas penas com o bico. Era difícil e fazia-lhe doer, mas ela estava determinada a ser a primeira galinha sem penas.

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Aos poucos ela começou a ficar com cada vez menos penas e as outras galinhas olhavam para ela curiosas. Até às galinhas sem penas no pescoço olhavam para ela com interesse. A galinha vaidosa ficou a achar que todos a admiravam porque ela estava a ficar mais bonita. Embora lhe doesse cada vez mais a pele, ela continuou a arrancar as penas até ficar totalmente sem penas.

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Assim que acabou de tirar todas as penas passou a pavonear-se pela capoeira exibindo a sua pele amarelinha com pontinhos mais altos em todos os sítios de onde tinha arrancado as penas. Ela ao princípio ficou contente porque todos na capoeira paravam para olhar para ela. Não conseguiam tirar os olhos dela, mas não pareciam gostar do que viam, estavam todos arrepiados com a imagem da galinha vaidosa, o aspeto dela era estranho e desagradável.

A galinha sem penas tinha frio, não conseguia aconchegar-se no ninho porque lhe faltava a fofura das penas, e embora sentisse que conseguia ter a atenção de todos não se sentia feliz.

A galinha vaidosa começou a ser acarinhada pelas outras galinhas do capoeiro e ela começou a admirá-las e a ver que eram bonitas com as penas, mas não se preocupavam com o que os outros achavam do seu aspeto. A galinha vaidosa não voltou a arrancar as suas penas e as penas começaram a nascer. Aos poucos a galinha voltava a ter o seu aspeto normal e estava a sentir-se cada vez mais feliz. A galinha vaidosa estava a deixar de ser vaidosa e estava a começar a gostar do seu aspeto normal e já não se esforçava por ser diferente das outras galinhas. A galinha que já não era vaidosa e que já não era a galinha sem penas era uma das galinhas bonitas do galinheiro e gostava de estar com as outras galinhas. Esta galinha passou a esforçar-se por agradar e ser amiga das outras galinhas em vez de querer ser diferente e de só querer que todos a admirassem. Agora a galinha sentia-se mais feliz, tinha descoberto que a amizade é mais valiosa que a admiração.

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