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Contos por contar

Contos por contar

07
Abr21

Vamos fazer bolo de chocolate!

#12 - Castanho Escuro - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma menina magra, pequena, de cara redonda e cabelo aos caracóis de um tom castanho dourado. A menina adorava fazer coisas em especial na cozinha, onde podia escolher as folhas do agrião para a sopa, descascar batatas (que ficavam às vezes ainda com um pouco de pele, mas não fazia mal, a mãe ajudava), cortar cogumelos, partir ovos, … Desde muito cedo que fazer aquelas coisas com a mãe era uma espécie de brincadeira com materiais diferentes. Quando a deixaram pela primeira vez usar a máquina para espremer as laranjas ficou radiante, todos disseram que o sumo estava mesmo bom e que devia ser por causa da cozinheira. Desde esse dia, se era para fazer sumo de laranja, era a menina que o fazia.

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Era véspera do aniversário do pai e a menina e a mãe estavam a pensar que bolo iam fazer. A menina disse:

- Vamos fazer bolo de chocolate!

E a mãe perguntou qual, afinal faziam vários bolos de chocolate e a menina disse aquele que só tem a casca e depois lá dentro é molho. A mãe sorriu e concordou porque era o bolo favorito do pai.

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Começou então o ritual de fazer bolos, a mesa branca da cozinha ia-se enchendo com o livro das receitas da mãe, a forma redonda com a mola que deixava sair o fundo, a balança de plástico branco que aguentava todos os trambolhões que ia dando e depois os ingredientes. A mãe lia a receita, a menina ainda não sabia ler mas escutava com muita atenção e no fim sabia o que era preciso e ia buscar ao armário: o açúcar, a tablete do chocolate especial dos bolos e a farinha. Os ovos e a manteiga a mãe tirava do frigorifico porque a menina não chegava lá.

 

Para fazer o bolo a mãe queria sempre que se untasse a forma e a menina gostava de o fazer. Quando a mãe lhe trouxe uma forma igual à grande, com mola e tudo, mas tão pequena que até parecia de brincar a menina ficou radiante. Vamos fazer dois bolos com a mesma massa, o grande e o pequenino como tu, o que achas? Perguntou a mãe. A menina ficou tão contente que nem conseguia falar, abanou a cabeça a concordar e sorria feliz como um pássaro.

Untadas as formas, foi pesar o açúcar, partir os ovos e pôr na batedeira e esperar até o ponteiro grande do relógio da cozinha chegar até onde a mãe disse. A menina estava sempre “com as anteninhas no ar” como a mãe lhe dizia e no momento certo avisou a mãe que era para terminar de bater. Enquanto esperavam partiram o chocolate e aqueceram com muito cuidado porque ele não gostava de calores rápidos. E que bom mexer o chocolate derretido até ficar suave no seu castanho brilhante, aquele cheiro quente e delicioso ia ficar gravado na memória da menina para sempre. Tinha sempre que meter o dedinho para provar o chocolate, a massa enquanto estava amarelo claro e depois de ficar castanha quando se juntava o chocolate derretido. As cozinheiras têm de provar o que vão cozinhando, senão pode não ficar bom! A menina já tinha dito à mãe que não sabia se gostava mais do bolo antes ou depois de ir ao forno.

O momento de verter a massa nas formas era sempre emocionante, será que ia caber, será que ia sobrar um bocadinho? Oh, como era delicioso rapar a taça do bolo e ficar toda lambuzada de castanho!

No forno voltava a brincadeira de tomar conta do ponteiro grande do relógio da cozinha e avisar a mãe quando chegava ao lugar que a mãe tinha dito. Aquele cheirinho a bolo a cozer, humm era mágico, fazia crescer água na boca como se fosse uma fonte.

E pronto lá estavam os dois bolos bonitos, frágeis porque lá dentro estava tudo mole, só foram para os seus pratos depois de terem arrefecido.

Como estavam bonitos!

A menina cresceu e ainda gosta muito de bolo de chocolate. Continua a fazer este bolo em momentos especiais!

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Texto no âmbito do #12 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Castanho Escuro

Neste desafio, que eu saiba, participo eu, a Oh da guarda peixe frito, a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, o José da Xâ,  a Rute Justino, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, João-Afonso Machado, A Marquesa da Marvila e a bii yue.

Este é em princípio o último texto do desafio mas sempre que tiver vontade de pintar palavras com um determinado lápis vou voltar a este desafio que me trouxe muitas alegrias neste 2.º confinamento. Sinto que somos o Grupo dos Lápis de Cor para sempre e pronto!

 

01
Abr21

Mãe são para ti!

#11 - Vermelho - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor

Cristina Aveiro

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Mary Stevenson Cassatt "Poppies in a field"

Era uma vez uma menina pequenina de rosto redondo, faces rosadas, pele clara e quase sempre com um sorriso doce nos lábios que se chamava Leonor. Tinha longos cabelos castanho muito claro, quase louro que terminavam em caracóis largos e que a faziam sentir-se uma princesa. Era muito doce a menina, gostava muito de brincar e gostava muito de cuidar do pequeno jardim que era só dela no meio do quintal da avó. No jardim da Leonor havia roseiras pequenas que davam rosas também pequeninas de várias cores, cor-de-rosa claro, escuro, branco, amarelas e cor de laranja, parecia um jardim de brincar por ser tudo em ponto pequeno. A Leonor adorava as suas rosas e embora tivesse muita vontade de oferecer flores à mãe e à avó não tinha coragem de apanhar as suas rosas porque eram pequeninas, eram poucas e se as apanhasse o seu jardim deixava de estar florido e bonito.

A menina sabia regar, tirar as ervas, cobrir a terra com carrascas de pinheiro para manter a humidade, era uma verdadeira jardineira. Gostava muito do seu pequeno regador com crivo que fazia uma chuva fininha sobre as roseiras. Adorava o seu carrinho de mão de metal verde que usava para ajudar a avó quando apanhavam laranjas ou nozes, quando arrancavam ervas que tinham de ser levadas para o canto do quintal e para tudo o que fosse preciso transportar. A menina sentia-se crescida ao fazer as tarefas no jardim.

O jardim da avó era muito grande e tinha sempre muitas, muitas flores e a Leonor gostava de  as colher para fazer os seus raminhos e oferecer. Apanhar flores para oferecer à mãe e à avó era irresistível para a Leonor, ela adorava flores e adorava a mãe e a avó. Foram muitas as vezes que a avó agradeceu, mas a seguir lhe disse com doçura que esta ou aquela flor ainda não estavam prontas para apanhar, ou que tinha apanhado com o pé muito curto e que não se conseguia pôr em água na jarra. A avó ficava enternecida com o gesto da menina, mas ficava um pouco triste porque tal como a Leonor gostava de ver as flores brilhar no seu jardim.

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Quando iam passear pelo campo ou pelo pinhal para respirar o ar puro, caminhar, correr, sentir a liberdade e a carícia do sol morno, a menina não conseguia parar de apanhar flores. Gostava dos malmequeres do campo, dos pampilhos, dos lírios do vale, dos lírios do campo, da flor-arlequim e tantas outras flores que nem a mãe sabia o nome. Depois de colher, arranjava-as num raminho, com uns rabos-de-gato pelo meio e mais umas verduras a compor e chegava perto da mãe, estendia o braço e dizia:

- Mãe, são para ti!

A mãe abraçava-a e agradecia e ia dizendo que as flores eram felizes no campo e que iam durar pouco tempo em casa numa jarra. Ainda assim, a menina ficava contente por ver o seu raminho na jarra pequena da janela da cozinha durante um ou dois dias, sentia que o cheiro e a beleza do campo estavam ali na sua casa.

Num desses passeios, no início da primavera a menina encontrou uma zona do campo cheia de papoilas vermelhas e achou-as maravilhosas, pareciam ter saído de um desenho, não resistiu e apanhou tantas quantas lhe cabiam nas suas mãos pequeninas e correu para as dar à mãe. Quando chegou perto da mãe e estendeu as papoilas disse com rapidez, sei que não é muito boa ideia apanhar as flores, mas eu acho-as tão bonitas que quero muito vê-las na tua jarra na nossa cozinha. A menina notou que a mãe quando recebeu as flores e lhe deu um miminho não disse nada sobre ter colhido as flores, mas pensou que era por ela ter dito que já sabia o que a mãe pensava.

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Quando começaram a regressar da caminhada a menina viu que as belas papoilas tinham começado a murchar e quando chegaram a casa estavam todas mirradas e parecia que tinham passado muitos dias depois de serem colhidas. A mãe colocou-as cuidadosamente na jarra e a menina ficou a ver o que acontecia muito esperançada que as flores voltassem a “arrebitar”. As papoilas continuaram murchas e a menina ficou triste e disse à mãe que as papoilas só podiam estar no campo, que não eram para ter em casa.

A mãe disse à Leonor que no próximo ano iam semear papoilas no jardim da menina e que então, ela as podia ter perto de casa e ver sempre enquanto estavam em flor.

A Leonor ficou radiante e pensou que a sua mãe sabia sempre tudo!

 

Texto no âmbito do #11 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Vermelho

Neste desafio, que eu saiba, participo eu, a Oh da guarda peixe frito, a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, o José da Xâ,  a Rute Justino, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, João-Afonso Machado, A Marquesa da Marvila e a bii yue.

Todas as quartas-feiras e durante 12 semanas publicaremos um texto novo inspirado nas cores dos lápis da caixa que dá nome ao desafio. Acompanha-nos nos blogues de cada uma, ou através da tag "Desafio Caixa de lápis de Cor". Ou então, junta-te a nós :)

 

 

 

24
Mar21

Hoje vamos à maré, quem quer vir?

#10 - Verde Claro - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor

Cristina Aveiro

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Era uma vez um bando de primos que adorava estar na praia com a tia Amélia, que não tinha filhos e vivia numa casa só para ela. Aquela praia aninhada no Pinhal de Leiria tinha poucas casas, era ventosa e o mar estava bravo a maior parte do tempo, mas a criançada adorava estar lá. Havia dias em que iam fazer passeios e explorar o pinhal e havia sempre jogos e coisas para fazer, coisas simples como apanhar pinhas a ver quem consegui ter mais, procurar o lugar mais escondido no meio dos medronheiros altos e densos, subir a colina onde estava o posto de vigia dos fogos e ver se os deixavam subir. Nunca se cansavam de inventar coisas para fazer e a tia escutava aquelas vontades todas de gente pequenina e ia combinando, aceitando e rejeitando projetos conseguindo que o bando aceitasse as escolhas finais que eram da tia. A tia era mais fácil de convencer a fazer coisas diferentes do que os pais deles. Havia coisas que só podiam fazer sendo muitos e mesmo as ideias que iam tendo para brincar e fazer eram mais e melhores por estarem naquele lugar e por estarem todos juntos. Quando planeavam o que queria fazer falavam muito, às vezes discutirem de forma acalorada qual era a melhor coisa que podiam fazer no dia seguinte, mas isso só tornava tudo mais divertido.

Um dia de manhã bem cedo a tia disse: - Hoje vamos à maré, quem quer vir?

A criançada ficou logo a dizer que sim com entusiasmo. Alguns não sabiam o que era ir à maré, mas queriam ir na mesma. Todos sabiam que havia a maré cheia e a maré vazia, no fundo o mar encolhia e esticava todos os dias sempre ao mesmo ritmo. Eles preferiam quando a maré estava vazia porque podiam aventurar-se um pouco mais na água. Na maré cheia, mesmo nos raros dias de bandeira verde, apenas podiam molhar os pés porque o mar ainda que manso era grande, com ondas suaves mas muito gordas e ficava fundo, não era para gente pequena.

Vamo-nos despachar a vestir e tomar o pequeno-almoço, depois, cada um agarra no seu balde de praia e leva-o consigo e a tia leva o resto das coisas. No caminho da praia foram para a zona das rochas que estavam descobertas porque a maré estava bem vazia. Estava tão vazia que até se conseguia passar até à outra praia mais a Sul. Os miúdos estavam encantados com o que iam vendo. A tia explicou que iam apanhar os mariscos das rochas, mostrou-lhes os burriés, lapas, os mexilhões, percebes e todos podiam procurar outras coisas que lhes parecessem boas para apanhar. A tia disse que depois daquela pescaria iam fazer um enorme petisco e comer o que apanhassem. Algumas crianças fixaram-se em apanhar os burriés ficando fascinadas com a quantidade de cores que tinham, desde preto, castanho, riscados de branco, … Outras tentavam apanhar os percebes, era uma tarefa mais difícil, os maiores percebes cresciam nas fendas entre duas rochas ou então nas zonas mais baixas, virados de “cabeça” para baixo. Um dos primos ia saltitando de rocha em rocha, apanhando um pouco de tudo o que encontrava.

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Para apanhar as lapas era preciso a ajuda da tia porque tinham de usar uma navalha para as descolar da rocha. Afinal não é à toa que se diz “agarrado como uma lapa”.

Quando a maré começou a subir e todos já estavam a ficar cansados a tia disse que era hora de irem embora e assim foi. Antes de regressar a casa para guardar a pescaria sentaram-se na areia da praia com os seus baldes ao centro para todos verem as pescarias de cada um. Ficaram admirados com o cada um tinha apanhado. Mas havia um balde que deixou todos de boca aberta. Um dos pequenos tinha o balde cheio de alface do mar, linda no seu verde claro, viçoso e brilhante e ele estava muito orgulhoso.

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Os primos começaram a rir e a dizer que ele não tinha percebido nada! Aquilo não era pescaria nenhuma. O menino começou a ficar triste e foi dizendo que se ia haver um petisco com coisas do mar também devia haver uma salada e ele tinha apanhado a alface para a salada. Todos riram ainda mais. Então a tia disse para pararem de ser mauzinhos, aquela não era a alface normal das saladas a que estavam habituados, era alface do mar, comestível e um bom alimento. Sentiam que tinham feito uma bela pescaria e, se a tia dizia que a alface do mar também ia brilhar no petisco é porque era verdade.

Ao chegar a casa foi toda uma azáfama a limpar os mariscos, a aprender como se cozinhava cada um e até mais tarde a aprender como se comiam. Sim, comer burriés tem que ser aprendido, não se percebe logo como se vai tirar o bichinho da concha.

Chegou a vez de lavar muito bem a alface do mar e todos estavam curiosos sobre como a iam comer. A tia explicou que quando tinha visitado os Açores tinha aprendido muitas maneiras de cozinhar aquelas alfaces e naquele dia elas iam entrar em muitos pratos, na sopa, na salada que ia acompanhar o jantar, numa bela omelete, num molho para barrar as torradas e um pouco para a caldeirada. Se houvesse mais até podiam usar para fazer uma sobremesa, mas hoje ia mesmo ser só fruta para a sobremesa! 

E tu alguma vez foste à maré? Alguma vez provaste os legumes do mar, as algas?

 

Texto no âmbito do #10 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Verde Claro

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03
Fev21

Leiria e os gatos pretos

#3 - Preto - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor

Cristina Aveiro

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Há muito tempo, os gatos eram apenas gatos, não tinham raças especiais, apenas tinham cores diferentes do pelo. Eram gatos da rua ou da família, mas mesmo esses, viviam entre a casa e a rua. Muitas casas tinham uma porta especial apenas destinada aos gatos, a gateira.

Gosto muito de gatos pela sua disponibilidade para mimos e ronronadelas e ao mesmo tempo pela sua grande liberdade, independência e pela beleza dos seus movimentos e poses.

Em casa da minha avó havia sempre vários, mas os que eu preferia eram os gatos pretos. A elegância, o porte, os olhos verdes a contrastar com aquele pelo sempre luzidio. A maioria das pessoas não gostava dos gatos pretos, preferia os riscados ou os amarelos, mas para mim só os pretos tinham “a roupa” de gala, super-elegantes como um galã num dos filmes a preto e branco de que eu tanto gostava. Nesses tempos eu sentia-me algo sozinha nesta admiração aos felinos negros.

Na minha Leiria há um largo que todos conhecem como Largo do Gato Preto porque nele havia uma pensão assim chamada. A parede da antiga pensão tem um painel de azulejo com um gato preto no meio da parede de azulejo verde esmeralda. Sempre gostei deste prédio e do seu gato, parecia quase um desenho de criança e não tinha um ar tão sisudo como as outras paredes da cidade. Este parecia de um livro infantil e com o gato na cor certa!

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O tempo passou, e concluo que há certamente uma paixão por gatos pretos na minha cidade. Recentemente passámos a ter o maior gato preto que eu conheço. Na cobertura de um edifício, está a escultura enorme que nos prende o olhar e domina os telhados do casario antigo de Leiria.

Este belo gato enorme integra-se na paisagem, contrastando pela modernidade mas integrando-se porque é um Gato Preto.

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Texto no âmbito do #3 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Preto

 

Neste desafio participo eu, a Oh da guarda peixe frito, a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, o José da Xâ,  a Rute Justino, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, e a bii yue.

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26
Jan21

A Senhora das Castanhas

#2 - Castanho - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor

Cristina Aveiro

IMG_0434-692x1024.jpgFotografia de Teresa Neto in Tilmagasine.pt

 

Não há ninguém em Leiria e arredores que não conheça a Senhora das Castanhas! Novos, velhos, da cidade, das aldeias em redor e mesmo quem visita a cidade nos tempos frios.

Há mais de 50 anos que o triciclo verde, com a bilha de barro furada aquecida pelo calor forte do carvão mineral, enchem o ar do Largo do Papa e da avenida com o perfume único do fumo cinzento azulado que anuncia as castanhas a assar. Só de sentir o cheiro já se sente o conforto e aconchego do sabor doce e levemente salgado deixado pela casca crepitante e estaladiça ao descascar. Quando se agarra o cartuxo cónico de papel e se sente o calor nas mãos já há um conforto que antecipa o descascar e saborear das belas castanhas amarelinhas aninhadas no seu ninho que era castanho e que é agora uma crosta acinzentada crocante.

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Fotografia de Teresa Neto in Tilmagasine.pt

Há pessoas que só gostam de castanhas destas, das que se assam e comem na rua porque o seu sabor é especial. Mesmo quem assa em casa nunca consegue alcançar a magia que aquele carrinho mágico acrescenta.

A certeza de ver ano, após ano a Senhora das Castanhas voltar, dá aquele conforto de que a vida é e vai continuar a ser boa e tranquila como sempre foi. As meninas e os meninos crescem e voltam anos mais tarde com os seus meninos e meninas para também eles comerem as castanhas do carrinho mágico.

A Senhora das Castanhas tem o rosto vincado dos anos, mas o seu sorriso é jovem, contagia, parece que ela não quereria estar a fazer o que quer que fosse que não estar ali, a assar as castanhas para nós.

Bem-haja por tudo!

 

Texto no âmbito do Desafio Caixa de Lápis de Cor

23
Jan21

As palavras têm sangue azul marinho !

Desafio Caixa dos Lápis de Cor - Azul Marinho

Cristina Aveiro

 

Tinta Permanente Azul Marinho.jpg

A menina já sabia desenhar bem as letras e escrevia com brio no seu caderno de duas linhas com o lápis bem afiado. Naquele dia a professora ia começar a ensinar a escrever com tinta permanente, era uma nova etapa onde os erros já não podiam ser apagados e tudo tinha que ficar bem à primeira. A menina estava cheia de entusiasmo, a caneta de tinta permanente, com o seu aparo dourado, o frasquinho com a tinta Quink da Parker que iria ficar para sempre na sua memória, as folhas de papel mata-borrão com o seu doce tom de rosa claro tudo eram novos objetos que a fascinavam. Quando a professora começou a ensinar a encher o depósito da caneta, rodando a ponta oposta ao aparo e aquele sangue azul marinho de que eram feitas as palavras que não se apagavam entrava na caneta os olhos da menina observavam bebendo cada momento.

Quando encheu a sua caneta e deixou o excesso do aparo no papel mata-borrão, ficou a contemplar o lado debaixo do aparo, era preto, cheio de estrias, parecia quase a barriga de um grilo. Tudo era muito mágico. Depois foi começar a fazer deslizar o aparo na folha de papel de linhas azuis e margens cor de rosa. Não era fácil, se carregava demasiado saia tinta de mais e mesmo com o mata-borrão ficava tudo feio e mal feito, se carregava de menos mal se via o que estava escrito e algumas letras falhavam e a menina não se atrevia a tentar passar de novo para as escrever. Passar de novo no mesmo sítio parecia ter tudo para ficar pior ainda.

Aos poucos a indomável caneta de tinta permanente foi sendo domesticada e a menina começou a deliciar-se enchendo folhas com palavras e mais palavras de bela caligrafia. Primeiro foram cópias, ditados e exercícios, mas a verdadeira magia só passou a acontecer quando a menina já sabia o suficiente para encher as folhas com as histórias que imaginava, ou com as histórias antigas que os avós lhe gostavam de contar quando estavam sentados nos bancos baixos dentro da lareira alta da casa deles. A menina também gostava de escrever sobre as coisas iam acontecendo à sua volta, sempre tentando usar mais e mais palavras novas que ia conhecendo nos livros, com a professora e com os adultos que a amavam e ensinavam mesmo sem querer.

A cor daquela tinta, aquele azul marinho espalhado suavemente no papel era ainda das suas cores preferidas, para vestir, para descansar os olhos, para ver no mar em certos dias, era uma cor de conforto e para ela seria sempre o sangue das palavras.

 

Texto no âmbito "Desfio Caixa dos Lápis de Cor"

 

 

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