Vamos fazer bolo de chocolate!
#12 - Castanho Escuro - Desafio da Caixa dos Lápis de Cor
Era uma vez uma menina magra, pequena, de cara redonda e cabelo aos caracóis de um tom castanho dourado. A menina adorava fazer coisas em especial na cozinha, onde podia escolher as folhas do agrião para a sopa, descascar batatas (que ficavam às vezes ainda com um pouco de pele, mas não fazia mal, a mãe ajudava), cortar cogumelos, partir ovos, … Desde muito cedo que fazer aquelas coisas com a mãe era uma espécie de brincadeira com materiais diferentes. Quando a deixaram pela primeira vez usar a máquina para espremer as laranjas ficou radiante, todos disseram que o sumo estava mesmo bom e que devia ser por causa da cozinheira. Desde esse dia, se era para fazer sumo de laranja, era a menina que o fazia.
Era véspera do aniversário do pai e a menina e a mãe estavam a pensar que bolo iam fazer. A menina disse:
- Vamos fazer bolo de chocolate!
E a mãe perguntou qual, afinal faziam vários bolos de chocolate e a menina disse aquele que só tem a casca e depois lá dentro é molho. A mãe sorriu e concordou porque era o bolo favorito do pai.
Começou então o ritual de fazer bolos, a mesa branca da cozinha ia-se enchendo com o livro das receitas da mãe, a forma redonda com a mola que deixava sair o fundo, a balança de plástico branco que aguentava todos os trambolhões que ia dando e depois os ingredientes. A mãe lia a receita, a menina ainda não sabia ler mas escutava com muita atenção e no fim sabia o que era preciso e ia buscar ao armário: o açúcar, a tablete do chocolate especial dos bolos e a farinha. Os ovos e a manteiga a mãe tirava do frigorifico porque a menina não chegava lá.
Para fazer o bolo a mãe queria sempre que se untasse a forma e a menina gostava de o fazer. Quando a mãe lhe trouxe uma forma igual à grande, com mola e tudo, mas tão pequena que até parecia de brincar a menina ficou radiante. Vamos fazer dois bolos com a mesma massa, o grande e o pequenino como tu, o que achas? Perguntou a mãe. A menina ficou tão contente que nem conseguia falar, abanou a cabeça a concordar e sorria feliz como um pássaro.
Untadas as formas, foi pesar o açúcar, partir os ovos e pôr na batedeira e esperar até o ponteiro grande do relógio da cozinha chegar até onde a mãe disse. A menina estava sempre “com as anteninhas no ar” como a mãe lhe dizia e no momento certo avisou a mãe que era para terminar de bater. Enquanto esperavam partiram o chocolate e aqueceram com muito cuidado porque ele não gostava de calores rápidos. E que bom mexer o chocolate derretido até ficar suave no seu castanho brilhante, aquele cheiro quente e delicioso ia ficar gravado na memória da menina para sempre. Tinha sempre que meter o dedinho para provar o chocolate, a massa enquanto estava amarelo claro e depois de ficar castanha quando se juntava o chocolate derretido. As cozinheiras têm de provar o que vão cozinhando, senão pode não ficar bom! A menina já tinha dito à mãe que não sabia se gostava mais do bolo antes ou depois de ir ao forno.
O momento de verter a massa nas formas era sempre emocionante, será que ia caber, será que ia sobrar um bocadinho? Oh, como era delicioso rapar a taça do bolo e ficar toda lambuzada de castanho!
No forno voltava a brincadeira de tomar conta do ponteiro grande do relógio da cozinha e avisar a mãe quando chegava ao lugar que a mãe tinha dito. Aquele cheirinho a bolo a cozer, humm era mágico, fazia crescer água na boca como se fosse uma fonte.
E pronto lá estavam os dois bolos bonitos, frágeis porque lá dentro estava tudo mole, só foram para os seus pratos depois de terem arrefecido.
Como estavam bonitos!
A menina cresceu e ainda gosta muito de bolo de chocolate. Continua a fazer este bolo em momentos especiais!
Texto no âmbito do #12 Desafio da Caixa dos Lápis de Cor - Castanho Escuro
Neste desafio, que eu saiba, participo eu, a Oh da guarda peixe frito, a Concha, a A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, o José da Xâ, a Rute Justino, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, João-Afonso Machado, A Marquesa da Marvila e a bii yue.
Este é em princípio o último texto do desafio mas sempre que tiver vontade de pintar palavras com um determinado lápis vou voltar a este desafio que me trouxe muitas alegrias neste 2.º confinamento. Sinto que somos o Grupo dos Lápis de Cor para sempre e pronto!