O Sapo
"Animais nossos amigos" - Afonso Lopes Vieira
O Sapo
Não há jardineiro assim,
Não há hortelão melhor
Para uma horta ou jardim,
Para os tratar com amor.
É o guarda das flores belas,
da horta mais do pomar;
e enquanto brilham estrelas,
lá anda ele a rondar...
Que faz ele? Anda a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o pomar
e fazem tristes as flores.
Por isso, ficam zangadas
as flores, se se faz mal
a quem as traz tão guardadas
com o seu cuidado leal.
E ele guarda as flores belas,
a horta mais o pomar;
brilham no céu as estrelas,
e ele ronda, a trabalhar...
E ao pobre sapo, que é cheio
de amor pela terra amiga,
dizem-lhe que é feio
e há quem o mate e persiga
Mas as flores ficam zangadas,
choram, e dizem por fim:
- «Então ele traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe assim?»
E vendo, à noite, passar
o sapo cheio de medo,
as flores, para o consolar,
chamam-lhe lindo, em segredo...
Afonso Lopes Vieira, in 'Animais Nossos Amigos'
É assim que eu sinto a poesia porque o meu jardim infantil chamava-se "Animais nossos Amigos", em Leiria, na terra do poeta que dedicou os versos de que mais gosto para crianças.
A cidade erigiu um espaço mágico onde brinquei e aprendia a amar os livros, até tinha uma biblioteca pequenina.
"Horácio Eliseu, em 1949, apresenta um projeto para um Jardim Infantil, com uma pequena Biblioteca das obras infantis de Lopes Vieira, ajardinado exteriormente com as figuras do livro de 1911, Animais Nossos Amigos, esculpidas em pedra, fundidas em bronze e desenhadas em painéis de azulejo por Anjos Teixeira Filho. O Mestre acrescenta os passarinhos31 e um painel azulejar com as abelhas. O projeto efetivou-se e, a 30 de abril de 1955, no mesmo dia em que se inaugurava a Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, fazia-se uma festa dedicada às crianças no Jardim Infantil Afonso Lopes Vieira. Nesta data estiveram presentes o Arquiteto Raul Lino e o Mestre Anjos Teixeira."
Raul Lino