O Jardim das Rosas
Era uma vez um enorme jardim onde havia lagos, estufas, bosque, floresta, … e uma enorme zona quadrada, cercada por altas sebes de cameleiras centenárias, onde as únicas plantas com flor eram roseiras.
No jardim das rosas, assim lhe chamavam, não havia duas roseiras iguais e eram muitas, quase mil. Em cada roseira, as rosas que nasciam também eram sempre diferentes, embora tendo a mesma cor, a mesma forma, cada uma era diferente e especial. Havia rosas de todas as cores, tamanhos e feitios. Havia rosas enormes, pequenas, muito pequeninas, cheias de pétalas, outras singelas com poucas pétalas, quase pareciam malmequeres.
No meio de tantas rosas havia uma rosa pequenina, que tinha nascido como um botão perfeito, bem cheio de pétalas brancas que à medida que abria deixava todos os visitantes do jardim encantados com a beleza das suas pétalas brancas, com o doce aroma suave que deixava no ar. A sua beleza singela, mas imponente ao mesmo tempo era a sua essência.
O jardineiro chamava à pequena rosa branca, Rosinha, tal era o carinho que tinha pela pequena flor.
Três canteiros mais à frente, numa enorme roseira, havia uma rosa onde os visitantes do jardim também paravam sempre para a contemplar. Era uma rosa grande, volumosa, muito elegante, com pétalas aveludadas de uma cor irresistível, alguns diziam que era carmim escuro, outros diziam que era vermelho alaranjado ou laranja avermelhado. Na verdade, não havia uma cor que a definisse.
Tinha um perfume intenso e agradável que inundava o ar em volta do canteiro.
Com tanta beleza e encanto podia imaginar-se que fosse bela por fora e feiosa por dentro, mas era uma rosa bondosa e feliz no seu jardim.
O jardineiro chamava-lhe Senhora Rosa e tinha enorme prazer em cuidar dela.
A pequena rosa branca admirava imenso a Senhora Rosa, gostaria de ter a sua cor única, admirava a sua elegância e gostaria de ter o seu aroma.
Na verdade, a Rosinha sentia-se feia, pequena, sem beleza ou elegância. Não conseguia perceber que os visitantes a admiravam tanto quanto à Senhora Rosa. Quando as outras rosas do jardim lhe diziam o quanto a admiravam, a Rosinha dizia sempre que era insignificante e quase feia.
Um dia a Senhora Rosa em conversa com a Rosinha explicou-lhe o quanto a admirava, o quanto gostava da luz que as suas pequenas e delicadas pétalas brancas enviavam para todo o jardim. Disse ainda que adorava o seu tamanho pequeno que lhe recordava a sua infância em que sentia muito menos a força do vento quando soprava.
A Rosinha abriu as pétalas de espanto! Nunca pudera imaginar que a Senhora Rosa a admirasse!
As centenas de rosas do jardim assistiam admiradas a esta conversa e, sentindo enorme gratidão por viverem naquele jardim mágico, começaram a cantar uma canção sobre a Rosinha e a Senhora Rosa, as únicas rosas com nome daquele jardim!
Este texto foi inspirado no Jardim Botânico do Porto - Casa dos Avós de Sophia de Mello Breyner Andresen e em duas Rosas de quem gosto muito.