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Contos por contar

Contos por contar

07
Nov20

O estranho coelho gigante

Cristina Aveiro

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Era uma vez um coelho que vivia num pequeno bosque de arbustos pouco altos mas bastante denso, onde havia sempre bons rebentos para roer e fazer uma bela refeição. Havia quem dissesse que era um coelho bravo porque vivia livre na natureza, era o Gustavo, o coelho bravo. O Gustavo era jovem e vivia numa comunidade, eram mais de dez coelhos e tinham uma verdadeira cidade subterrânea com muitas tocas ligadas por túneis, várias entradas e várias saídas para nunca ficarem encurralados lá dentro. Quem definia as regras era a coelha chefe e o seu companheiro. A coelha chefe, que era maior do que o companheiro, distribuía os lugares onde cada um podia ficar, evitava que houvesse lutas entre todos e tinha direito à melhor toca de todas. O coelho chefe marcava a zona que lhes pertencia esfregando o seu focinho nos arbustos e deixando o seu odor. Era ele que defendia o território quando outros coelhos tentavam intrometer-se.

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Quando uma jovem coelha não conseguia uma boa toca na colónia dos túneis porque a coelha chefe não lhe permitia, ela escavava uma toca só para si. Era lá que deixava os seus filhotes quando nasciam, muito pequeninos, de olhos fechados e quase sem pêlo. Arrancava algum pelo da sua barriguinha e fazia um ninho fofo onde eles ficavam bem quentinhos. Quando tinha que sair para comer, tapava cuidadosamente a entrada da toca com terra e colocava ramos e folhas para disfarçar a entrada. Quando voltava escavava de novo para abrir a toca.

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Os coelhos bravos eram todos parecidos, tinham o pelo pardo, com um tufo branquinho por baixo do pon-pon do rabito e tinham também pêlo esbranquiçado na barriguinha. As suas orelhas eram grandes, quase do comprimento do seu focinho, sempre levantadas e a rodar para todos os lados, escutando tudo o que se passava à sua volta. O seu focinho com os olhos negros grandes e redondos de cada lado permitiam-lhe ver o que se passava a toda a sua volta, mesmo atrás de si sem ter de voltar a cabeça.

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Eram todos bons corredores porque as suas patas traseiras eram um pouco maiores e muito musculadas, mas nunca se afastavam muito das suas tocas, nem mesmo para comer. Os seus pés eram grandes quase do tamanho das orelhas, o que lhes permitia levantarem-se e ficar apoiados nas patas traseiras com as duas mãos juntinhas encostadas ao corpo. Quando corriam gostavam de ir em zigue-zague o que tornava mais difícil serem apanhados. Quando estavam a ser perseguidos por um lince, uma águia-imperial ou uma água-real corriam aos zigue-zagues e procuravam abrigar-se rapidamente numa toca onde os perseguidores não conseguissem entrar.

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O Gustavo já começava a sonhar com uma família e gostaria de ser coelho chefe um dia. Como o Gustavo tinha este sonho, de vez em quando depois de anoitecer, afastava-se mais das tocas e ia explorar o monte à sua volta.

Ia escavando aqui e ali para ver se a terra era fofa e se conseguia abrir um bom buraco. Outras vezes procurava debaixo de uma árvore velha com grandes raízes e tentava escavar uma toca.

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Um dia, andava o Gustavo nas suas explorações quando encontrou uma zona muito aberta de terreno, era uma colina e dali para a frente já não havia árvores nem arbustos, era só erva muito rasteira e nem havia nenhuns abrigos. O Gustavo ergueu-se sobre as suas patas e ficou a observar tudo o que se via dali até ao longe. Nunca tinha conseguido avistar lugares tão distantes.

De repente viu o que parecia ser um coelho enorme, não, afinal eram dois, eram três e estavam em pé, em frente um do outro, a lutar com as mãos, batendo com força, até saiam tufos de pêlo branco pelo ar.

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Saltitavam de um lado para outro e continuavam naquela luta estranha que ele nunca tinha visto.

As orelhas daqueles coelhos tinham o dobro do tamanho das do Gustavo, as pernas e os pés eram enormes. Quando deixavam de estar em pé e se apoiavam nas quatro patas, o corpo ficava bem acima do chão, em especial atrás, parecia que tinham pernas de girafa. Chegou entretanto outro coelho gigante, juntou-se aos restantes e começaram a correr a uma velocidade louca, davam saltos em que se viravam no ar, eram mesmo muito estranhos. Tinham as cabeças pequenas, orelhas gigantes e eram pelo menos do dobro do tamanho do Gustavo. Eram mesmo impressionantes, o Gustavo ficou com um pouco de medo deles.

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Apareceu um pássaro grande no céu e o Gustavo apressou-se a voltar para a sua toca, mas antes ficou a ver como aqueles coelhos corriam, nunca mais se ia esquecer, pareciam relâmpagos, ao longe só conseguia ver as pontas pretas das suas orelhas e os pelitos brancos da parte de baixo da sua cauda.

O pelo deles até era parecido com o do Gustavo, o nariz, os olhos, mas eram absolutamente gigantes, eram super-saltadores, ultra-rápidos na corrida, pareciam não ser verdadeiros.

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Quando o Gustavo regressou à sua toca e contou o que tinha visto, os coelhos mais velhos desataram a saltitar e a bater com as patas e explicaram-lhe que não eram nada coelhos… Eram lebres! As lebres eram enormes, saltavam e corriam com tanta velocidade que as pernas até passavam à frente das mãos e ao mesmo tempo parecia que saltavam como uma mola para a frente.

O Gustavo ficou a saber que havia coelhos bravos como ele e também havia lebres que eram uns parentes distantes, gigantes e que viviam nos campos abertos. Nem sequer gostavam de tocas, não precisavam delas nem para os seus filhotes, porque eles já nasciam com pelos, olhos abertos e prontos para andar. Era um alívio saber que as lebres não queriam viver no bosque porque elas gostavam de viver nos campos abertos, o Gustavo não gostaria de ter aqueles gigantes como seus vizinhos, eles eram assustadores.

O que o Gustavo não sabia é que as lebres afinal eram apenas diferentes dos coelhos e embora isso o assustasse, elas não eram um perigo para o Gustavo, também elas eram pacíficas e adoravam as suas famílias.

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Afinal... coelho ou lebre?

 

 

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