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Contos por contar

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05
Jan21

O estranho ano de 2020

Cristina Aveiro

E se daqui a 50 anos um menino de hoje contasse aos netos esta história. Hoje, 31 de Dezembro de 2020 é assim que imagino esse momento!

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Há muito, muito tempo, corria o longínquo ano de 2020 quando um maléfico e terrível pom-pom vermelho 1000 vezes mais pequeno que um fio de cabelo fez o que nunca nada tinha conseguido… Conseguiu parar quase todas as pessoas e fechou-as nas suas casas durante semanas para se protegerem. Uniu aos poucos o mundo inteiro para o vencer. 

O terrível pon-pon entrava nos corpos e multiplicava-se loucamente, muitas pessoas ficavam doentes, algumas nem conseguiam respirar sozinhas, médicos e enfermeiros usavam máquinas para empurrar o ar para os pulmões.

No início, não se percebia como o pon-pon entrava nos corpos, nem como se espalhava tão rapidamente entre as pessoas, que sem saberem como, nem porquê, ficavam doentes. Enquanto não se compreendia como tudo isto acontecia, a única coisa que evitava a doença era ficar em casa. Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo ficaram em casa, tudo parou, aviões, navios, comboios, carros, ... Todas as cidades, grandes e pequenas, pareciam cidades fantasma, de ruas sem vivalma. 

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As pessoas deixaram de ir a todos os lados, restaurantes, hotéis,  espetáculos, lojas sem ser de comida, e de repente muitas pessoas ficaram sem trabalho, muitas não podiam ir para as fábricas trabalhar. Sem trabalho as pessoas deixavam de ter dinheiro para viver, mais um problema muito grave para além do medo de ficar doente.

Muitas pessoas entenderam o quanto dependiam das outras, precisavam de quem fazia os trabalhos, mas quem fazia os trabalhos também precisava de quem os comprava. Muitas vezes as pessoas viviam a sua vida mecanicamente, sem sentir esta necessidade que todos temos de sentir e ter os que estão à nossa volta, para nos servir, e para que os possamos servir também.

Quando todos estavam em casa para se proteger, havia quem fosse trabalhar apesar do medo que sentia. Quem trazia a comida, a água, e eletricidade para as casas, e todos os que cuidavam de pessoas tinham que continuar a ir. Os que trabalhavam nos hospitais, os bombeiros, os voluntários eram aplaudidos em todo o mundo com palmas às janelas para agradecer tudo o que estavam a fazer.  Antes as crianças sonhavam ser famosas, super-heróis, craques dos desportos, mas agora todos reconheciam que os heróis verdadeiros trabalhavam na saúde e determinavam os destinos da humanidade. Em tempos muito antigos, os donos do saber da saúde eram venerados como seres supremos, e a terrível peste tinha recordado os seus verdadeiros poderes. Muitas vezes exaustos, isolados da família, sem o repouso necessário, mas sem nunca desistir da sua missão, porque salvar vidas não tem preço, é um valor supremo. 

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Aquele ano de 2020 parecia ter vindo do fim do mundo, havia muitas e muitas pessoas doentes, nos hospitais muitas vezes não havia lugar para cuidar de tantas pessoas, os mais velhinhos ficavam mais doentes e muitos não conseguiam resistir ao maléfico pon-pon.

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Aos poucos, juntando saberes e partilhando experiências de médicos e cientistas de todo o mundo, começou a perceber-se que o pom-pom voava pelo ar sempre que alguém espirrava ou falava, saindo aos milhões nos pequenos perdigotos que saem da nossa boca e do nosso nariz. Claro que as mãos, que passam a vida a tocar na cara, no nariz e na boca, também levavam e traziam o pon-pon para todo o lado, portas, mesas, cadeiras, enfim tudo o que fosse tocado.  Depois foi um nunca mais acabar de lavar as mãos, não tocar em ninguém, usar máscaras, desinfetar tudo e mais alguma coisa. Vimo-nos como peças de um dominó, que quando uma cai todas as outras podem cair. Precisamos de nos proteger e de proteger os outros. Proteger os outros é proteger-nos a nós. Esta demoníaca praga tinha-nos obrigado a entender o que todos sabiam, mas que tantas vezes não faziam. Agora tinha mesmo que ser, sempre e a toda a hora. Esta verdade tinha que ficar gravada na nossa forma de viver para sempre.

Neste mundo, com muito menos pessoas a circular, menos carros, com as fábricas paradas, começou a acontecer uma coisa estranha, em muitas cidades o ar e a água antes poluídos, começaram a ficar mais puros e límpidos. Animais que há muito tempo se tinham afastado das cidades regressaram, pássaros, golfinhos, animais da floresta aproximavam-se das povoações. A Terra parecia estar aliviada de tantas agressões do homem e estava a celebrar a vida. As pessoas viam fascinadas o regresso dos animais às cidades e sentiam alegria por ver o ar mais puro e a água mais limpa. Tinham que respeitar e escutar mais o planeta e fazer as coisas de novas formas para que a Terra pudesse ser um lugar melhor para todos os seres vivos.

No tempo em que as pessoas ficaram em casa, passaram a ter tempo para fazer coisas que nunca faziam porque costumavam andar sempre a correr de um lado para o outro, a espalhar o tempo aos bocadinhos e a ficar sem tempo nenhum. Em casa fizeram pão, comidas caseiras especiais, cozinharam juntos, brincaram com as crianças horas sem fim, leram e releram livros e mais livros, pintaram, fizeram coisas que nunca tinham feito e tudo isso foi muito bom. Aprenderam o quanto era bom estarem juntos, poderem fazer coisas juntos, em vez de comprarem e terem coisas e mais coisas. Aprenderam o que custa não poder estar com os avós, os amigos e tantas pessoas que também tinham que estar nas suas casas. Podiam falar nos computadores e telefones, mas nada é como um abraço apertado, beijos e carinhos, dar as mãos, … A presença e proximidade física, que antes era normal agora percebíamos que era algo muito valioso e insubstituível. Mostrar o amor que sentimos com gestos doces é essencial à vida das pessoas. Nunca mais podiam voltar a esquecer o que é a maravilha dos abraços e beijos, das visitas e conversas, de ter tempo para estar com as pessoas importantes e fazer coisas simples e boas. 

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As pessoas passaram a dar valor a poder sair de casa, ir à rua, sentir o ar na cara, ver as árvores e os rios de perto, ver e sentir o mar, sentir os cheiros da natureza e da cidade. Era estranho, muito estranho sentir-se preso na sua casa. Sentiram a falta das conversas, corridas e brincadeiras nas ruas e nos parques, viram como estas coisas eram muito valiosas e como antes não tinham entendido esse valor.

Em menos de um ano cientistas do mundo inteiro conseguiram inventar e fabricar vacinas. Que conquista fantástica! Demorava anos, ou décadas a produzir uma nova vacina. Conseguiram melhorar os tratamentos das pessoas doentes, conseguiram aconselhar quem organiza os países. Ajudar a decidir se as pessoas podiam sair e ir às escolas e aos trabalhos, ou se tinham ficar em casa. Países tão diferentes, unidos, a partilhar conhecimento científico e tecnológico para o objetivo de todos. 

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No último dia do ano, muitos diziam que aquele ano era para esquecer! Que viesse o novo ano, 2021! Mas seria mesmo que podiamos esquecer 2020?  Não, não se podia esquecer aquele esforço da humanidade na luta contra o pon-pon vermelho. Não se podia esquecer os feitos e as perdas deste ano. 2020 tinha mostrado que os valores essenciais da humanidade têm que ser sempre lembrados e vividos todos os dias.

Era preciso não voltar a esquecer que as Pessoas e a Natureza são o mais importante e 2020 tinha dado tempo para todos poderem pensar nisso!

 

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