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Contos por contar

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22
Out20

Bocas, o caranguejo violinista

Cristina Aveiro

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Era uma vez um caranguejo que vivia na Ria Formosa numa parte plana da ria que ficava descoberta quando a maré ficava vazia. À medida que a água recuava, deixava à vista a areia escura, lodosa que dava comida a inúmeros animais, esta zona da ria estava cheia de tocas de caranguejos escavadas na areia. Era esta a casa do Bocas. Ele era um caranguejo violinista, não porque tocasse violino, mas porque ele tinha uma das suas pinças enorme, quase do tamanho do seu corpo que se mexie parecendo que estava a tocar violino sempre que pinça pequena se movia.

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Não pensem que esta pinça grande era perigosa ou que servia para ele se alimentar, esta pinça era muito importante para ele. Quando era pequeno não tinha a pinça especial, só depois de ser adulto é que ela ganhara tamanho e lhe permitia mostrar bem à distância que era um macho adulto, com a sua cor esbranquiçada que se via muito bem sobre a areia escura da ria. O Bocas fazia movimentos com a sua pinça especial que pareciam um músico a tocar violino quando queria fazer uma dança especial para atrair as suas namoradas. A pinça especial era também muito usada nas lutas com os outros machos para verem qual era o mais forte, isto é o que conseguia virar o outro ao contrário. Às vezes lutavam quando os dois queriam ficar com a mesma toca. Para se alimentar usava a pinça minúscula que era igual às das suas namoradas. Ele era rápido a retirar algas e outros petiscos do lodo numa atividade quase frenética.

O Bocas também se orgulhava muito dos seus olhos, eles tinham um mecanismo que permitia que subissem muito alto fora da carapaça, quase pareciam pousados numas antenas, para verem tudo à sua volta, mas também podiam ficar recolhidos para ele poder entrar nas suas tocas.

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Os caranguejos seus amigos eram de muitas cores, podiam ser cinzentos como ele, mas tinha amigos violeta escuro, vermelho escuro, laranja e até amarelo. Quando a maré estava vazia a areia ficava coberta com os caranguejos e as grandes pinças brancas sempre em movimento marcavam a toda a extensão da areia lodosa. Quando uma ave ou outro animal se aproxima eles fogem rapidamente e todos ao mesmo tempo para dentro das tocas, num movimento tão organizado que parece quase uma dança feita por todos.

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O Bocas estava sempre muito atento às aves que se aproximavam e também quando vinham uns gigantes com umas redes, ou uns sacos. Ele sabia que as aves podiam comer os caranguejos e eram temidas por todos. Quanto aos gigantes o que ele sabia é que eles eram muito cruéis, arrancavam as pinças especiais aos caranguejos e comiam-nas, depois mandavam os pobres caranguejos sem as pinças especiais de novo para a ria. O Bocas morria de pensar que lhe podia acontecer isso, a sua pinça era a sua arma, era afinal o que mostrava ao mundo que ele era um caranguejo adulto, forte, bonito, completo. Sem a sua pinça nunca mais ia ter namoradas. Sem a sua pinça os outros machos nem iam perceber o que é que ele era, seria uma fêmea, seria um jovem, como é que ele iria lutar pela sua toca. Como é que ele podia voltar a ser violinista?

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O Bocas sempre que via os gigantes aproximarem-se enfiava-se na toca, nem que ficasse com fome, nada o fazia sair. Quando a maré subia ficava um pouco mais descansado porque os gigantes só costumavam aparecer na maré vazia.

 

 

 

 

Perigos que o Caranguejo violinista enfrenta

https://www.publico.pt/2000/02/20/jornal/uma-vida-sexual-dificil-140211

 

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