Bernardo vem para a cama!
O Bernardo era um menino já crescido, que ia começar a aprender a ler e a escrever no fim daquelas férias de Verão. Era alegre, turbulento às vezes, mas era atento às pessoas, prestava atenção ao que sentiam.
Era Verão e tinham viajado durante horas para uma praia cheia de sol, com mar calmo onde iam ficar com os tios, as primas e a avó. Estavam todos numa casa grande perto da praia e todos os dias apanhavam um pequeno barco para irem para a praia. Os dias eram cheios de alegria, banhos no mar, brincadeiras com as primas e o irmão, mas também com os adultos porque nas férias todos tinham mais vontade de brincar. Naquela praia a areia tinham uma enorme quantidade de conchas, em especial de vieiras perfeitas de todos os tamanhos e de várias cores. Todos adoravam passear e apanhar as bonitas conchas.
Num destes dias felizes de sol, mar e brincadeira o telefone do tio tocou e o Bernardo estava com ele. O Bernardo viu que o tio ficou triste e preocupado, com uma cara como ele nunca tinha visto. Então o tio explicou a todos que tinha acontecido uma coisa muito triste, a sua avó Antónia tinha morrido. O Bernardo sabia que a avó do tio já era muito velhinha, tinha mais de noventa anos, mas estava boa, não estava doente.
No dia seguinte o tio e a tia não estiveram na praia, viajaram para acompanhar a avó Antónia. Quando já muito tarde os tios regressaram à casa das férias, já a mãe do Bernardo estava lá em cima nos quartos a preparar-se para contar uma história às crianças antes de dormirem. O Gonçalo, assim que sentiu que os tios tinham chegado, desceu as escadas e veio juntar-se a eles na cozinha.
A mãe procurou-o e disse-lhe: Bernardo vem para a cama! Mas o Bernardo não foi e a mãe desceu para ver o que se passava.
O Bernardo sentou-se ao pé dos tios e perguntou com uma cara séria como tinham corrido as coisas com a avó Antónia. O tio respondeu que tinha corrido normalmente, que tinha sido feito o funeral e que agora a avó era uma estrelinha no céu. O menino ouviu com atenção e disse que não entendia uma coisa. Se no funeral o corpo é enterrado como consegue subir para o céu para ser uma estrela? O tio ficou um pouco perdido antes de responder e a avó do Bernardo disse, sabes só o nosso corpo é que fica sem vida, mas a nossa alma, o que nós sentimos, o que temos no coração, não desaparece. É a nossa alma que consegue subir até ao céu e assim fica lá como uma estrela a olhar por todos. O Bernardo escutou e ficou pensativo.
A mãe do Bernardo chega à cozinha e diz-lhe de novo, Bernardo eu disse para vires para a cama… O menino respondeu calmamente que tinha que vir conversar com o tio para saber como ele estava. A mãe ficou enternecida com a atitude do seu menino e perguntou-lhe se agora já podia ir para a cama e o Bernardo disse que sim.