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Contos por contar

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23
Jan21

As palavras têm sangue azul marinho !

Desafio Caixa dos Lápis de Cor - Azul Marinho

Cristina Aveiro

 

Tinta Permanente Azul Marinho.jpg

A menina já sabia desenhar bem as letras e escrevia com brio no seu caderno de duas linhas com o lápis bem afiado. Naquele dia a professora ia começar a ensinar a escrever com tinta permanente, era uma nova etapa onde os erros já não podiam ser apagados e tudo tinha que ficar bem à primeira. A menina estava cheia de entusiasmo, a caneta de tinta permanente, com o seu aparo dourado, o frasquinho com a tinta Quink da Parker que iria ficar para sempre na sua memória, as folhas de papel mata-borrão com o seu doce tom de rosa claro tudo eram novos objetos que a fascinavam. Quando a professora começou a ensinar a encher o depósito da caneta, rodando a ponta oposta ao aparo e aquele sangue azul marinho de que eram feitas as palavras que não se apagavam entrava na caneta os olhos da menina observavam bebendo cada momento.

Quando encheu a sua caneta e deixou o excesso do aparo no papel mata-borrão, ficou a contemplar o lado debaixo do aparo, era preto, cheio de estrias, parecia quase a barriga de um grilo. Tudo era muito mágico. Depois foi começar a fazer deslizar o aparo na folha de papel de linhas azuis e margens cor de rosa. Não era fácil, se carregava demasiado saia tinta de mais e mesmo com o mata-borrão ficava tudo feio e mal feito, se carregava de menos mal se via o que estava escrito e algumas letras falhavam e a menina não se atrevia a tentar passar de novo para as escrever. Passar de novo no mesmo sítio parecia ter tudo para ficar pior ainda.

Aos poucos a indomável caneta de tinta permanente foi sendo domesticada e a menina começou a deliciar-se enchendo folhas com palavras e mais palavras de bela caligrafia. Primeiro foram cópias, ditados e exercícios, mas a verdadeira magia só passou a acontecer quando a menina já sabia o suficiente para encher as folhas com as histórias que imaginava, ou com as histórias antigas que os avós lhe gostavam de contar quando estavam sentados nos bancos baixos dentro da lareira alta da casa deles. A menina também gostava de escrever sobre as coisas iam acontecendo à sua volta, sempre tentando usar mais e mais palavras novas que ia conhecendo nos livros, com a professora e com os adultos que a amavam e ensinavam mesmo sem querer.

A cor daquela tinta, aquele azul marinho espalhado suavemente no papel era ainda das suas cores preferidas, para vestir, para descansar os olhos, para ver no mar em certos dias, era uma cor de conforto e para ela seria sempre o sangue das palavras.

 

Texto no âmbito "Desfio Caixa dos Lápis de Cor"

 

 

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