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Contos por contar

Contos por contar

26
Jul22

Os meus avós inspiram-me e trazem-me sempre um sorriso ao rosto!

Cristina Aveiro

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O amor do meu avô Manuel pela sua Maria sempre me fez desejar ser amada assim. O carinho, os abraços, as palavras calmas e a voz paciente do meu avô ficaram comigo para sempre, a minha avó, mais enérgica, menos paciente para abraços ou coisas que a demorassem e atrasassem o objetivo que tinha destinado escapava-se dos carinhos dele, mas sempre de um modo brincalhão e no fundo, parecia-me feliz com a atenção que recebia.

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Foram sempre construtores da sua família, vencendo os desafios da vida que foram muitos e custosos, mas nunca perderam a alegria do que iam conseguindo.

As netas e o neto sempre foram enormes fontes de alegria, preenchida de momentos vividos em conjunto, de plantar cebolas, a apanhar erva, ou ver como se retirava o mel dos cortiços. Havia sempre coisas a ensinar e havia sempre tempo para me escutarem e tomarem a sério, o que não acontecia com muitos adultos à época.

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Souberam acolher as mudanças que o tempo lhes foi trazendo à vida e acompanharam-nos em viagens, aventuras nas praias próximas e mesmo nas praias distantes, sempre com bonomia e gratidão.

IMG_1731.JPGTiveram sempre um enorme entusiasmo pelos netos, desde a primeira (eu) à última que chegou 17 anos mais tarde, a minha irmã mais nova.

O meu avô dizia com convicção que devia haver em todas as casas sempre uma criança com menos de três anos, porque elas eram a fonte da mais pura alegria.

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Os meus avós deixaram-me tanta riqueza que não consigo descrever tudo o que sinto e me enche e aquece o coração.

Sei que lá onde estão continuam a olhar por nós com a mesma ternura e enlevo que sempre mostraram.

22
Jul22

Vamos apanhar conchinhas na praia? Ou não?

Cristina Aveiro

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Naquele verão as férias iam ser numa praia distante, muito diferente das que conheciam. Os pais tinham-lhes dito que ia estar sempre sol e calor e que o mar estava sempre calmo, a bandeira verde quase nunca descia do mastro.

Os irmãos não conseguiram acreditar, não que os pais lhes mentissem, mas era demasiado bom para ser verdade?! Calor, mar manso e bandeira verde? Iam passar todo o tempo na água como tanto adoravam.

Quando chegaram à praia no primeiro dia não conseguiam parar de tomar banhos e brincar no mar. O dia passou a correr e quando foi hora de deixar a praia às gaivotas que chegavam, eles queriam ficar e continuar com o sol, a areia e o mar.

No dia seguinte os pais levaram-nos num longo passeio junto ao mar até ao fim da praia que parecia nunca mais chegar. Foram banhos e mais banhos, gritinhos de alegria ao ver os peixes a nadar felizes mesmo à beira da areia nas ondas pequeninas. Era tudo tão puro, transparente, perfeito que paravam em silêncio a contemplar a perfeição da natureza.

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No regresso prestaram mais atenção às conchas e búzios de mil cores e feitios, inteiras e partidas, recortadas ou intactas. Os pequenos começaram numa recolha entusiasmada, saltando sempre para a próxima que parecia mais brilhante, mais perfeita, mais diferente das que já tinham, de tal forma que as mãos e os bolsos deles e dos pais não chegavam para aconchegar tamanho tesouro.

Aos poucos foram reparando que muitos dos que caminhavam para trás e para a frente ao longo da praia recolhiam, tal como eles os mesmos tesouros.

Quando por fim chegaram à toalha quiseram ir ao mar lavar todos os tesouros e depois iam pô-los nas toalhas a secar.

Quando chegaram junto à água, pareceu-lhes que ouviam uma voz do mar, das ondas ou dos peixes, a perguntar:

- Para onde levam as casas dos meus filhos? Eles vão precisar delas!

Os meninos ficaram a pensar que aquilo não podia ser real! Olharam a toda a volta a ver se era alguém a brincar com eles, mas não estava ali ninguém.

Perguntaram um ao outro se tinha ouvido aquela voz e com um pouco de receio disseram que sim, que ambos tinham escutado. Conversaram um pouco sobre as conchas e concluíram que muitas não podiam ser a casa de ninguém porque estavam partidas.

Do nada escutaram de novo a voz:

- Como pensam que aparece a areia fofa e limpa com que tanto gostam de brincar? Olhem para ela com atenção? Vêem os pedacinhos das conchas de todas as cores que estão a levar? Pois a areia é feita de muitas e muitas conchas, que rolaram e rolaram milhares de vezes até ficarem partidinhas assim em pedaços muito pequeninos para serem a vossa areia macia e dourada. Sem conchas, não há areia!

Os meninos vieram para as tolhas e deixaram as conchas junto às ondas.

Os pais ficaram admirados e perguntaram porque não tinham trazido as conchas e os meninos disseram que tinham pensado melhor e queriam deixar na praia o que era da praia, da natureza, porque se estava lá devia fazer lá falta.

No dia seguinte, quando chegou a hora do passeio, as crianças quiseram levar os baldes e o saco dos brinquedos. Os pais pensaram que tinham mudado de ideias sobre as conchas.

Ao longo do caminho as crianças começaram a apanhar pedaços de corda, pequenos plásticos, pedaços de redes e de boias de pesca e os pais perceberam a mudança e passaram também a ajudar a encher os baldes.

No regresso muitos olhavam para aquela família com curiosidade, vinham com muito lixo e iam levá-lo aos caixotes da praia. Traziam um sorriso no rosto e quem os via, primeiro estranhava, mas depois abria o rosto num sorriso grato.

Desde aquelas férias deixaram de ser apanhadores de conchas e passaram a trazer sempre da praia o que encontravam por lá e que não era da praia, quanto às conchas, continuavam a ser motivo de admiração e um regalo para os olhos!

E tu? Apanhas conchas na praia? Já pensaste em apanhar outras coisas? Todos podemos ajudar a deixar as coisas nos lugares certos…

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