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Contos por contar

Contos por contar

29
Jun21

Um ano de Contos por Contar

Cristina Aveiro

Bolo Aniversario 1.jpg

Iniciei esta aventura dos Contos por Contar em 7 de junho de 2020, criando um espaço para partilhar os contos que escrevi durante o primeiro confinamento. Nada sabia de blogs, apenas sabia que existiam, já tinha espreitado alguns sobre viagens e nada mais.

Foi muito bom ir aprendendo a forma de fazer as coisas e foi bom sentir que havia alguém do outro lado.

Passados poucos dias a 26 de junho fui surpreendida por a equipa ter destacado um post que fiz sobre O passeio de todos os dias, não tinha a noção do que seria um destaque, mas imaginei que tivessem gostado (nem fiz um print do acontecido). Depois começaram as surpresas porque apareceram pessoas que me foram desafiando para escrever e eu fui aceitando os desafios que consegui, gostei particularmente de "As melhores férias da minha vida" em 100 palavras. 

Para manter a sanidade no verão escrevi muitos contos e estabeleci o propósito de todos os sábados publicar um novo conto.

Veio o Natal e surgiu um novo desafio que me encheu a alma Os nossos contos de Natal - 2020 da Isabel e nessa altura comecei a sentir que fazia parte de uma bando de sapos muito especial.

Chegados ao final do ano de 2020 todos começaram a dizer que 2020 era um ano para esquecer, como se a simples mudança de ano mandasse embora todos os problemas que a pandemia tinha trazido, ou que 2020 tivesse sido um ano em vão. Como não concordo escrevi  O estranho ano de 2020 e para grande alegria minha foi destacado pela equipa e desta vez já fiz um print para me lembrar.

Destaque -o estranho ano 2020.jpg

Depois veio o terrível janeiro de 2021 e novo confinamento. Em boa hora a Fátima Bento lançou Desafio da Caixa dos Lápis de Cor e então senti-me mesmo num sapal de gente bonita que gosta de se desafiar, de se ler e comentar, de se amparar nesta aventura que é a vida. Confesso que estar neste sapal me tornou mais feliz e deu cor a estes tempos cinzentos.

Veio o Dia mundial da Poesia, 20 de março, e a equipa desafiou-nos a celebrar, eu escolhi O Sapo de Afonso Lopes Vieira um poema para crianças do livro "Animais nossos Amigos" que me trás das melhores memórias de criança, o amor à natureza, o respeito pelos animais, ... e fiquei muito contente quando a equipa deu destaque à minha escolha e depois comentou "Obrigado, Cristina, foi uma belíssima escolha. Fica como o nosso poema honorário da plataforma  ". Belo hino aos Sapos desta vida este poema.

Destaque Sapo - Dia Mundial da Poesia - Março 202

Nos últimos tempos não tenho tido tempo para este lado feliz da vida, foi de tal forma que até me esqueci de partilhar estas reflexões em jeito de comemoração do 1.º ano.

Nunca esperei que os contos chegassem a tantas pessoas e a tantos lugares, estou muito feliz com isso!

Vamos ver o que vem a seguir!

 

10
Jun21

A Ovelha Preta

O Francisco contou e eu escrevi!

Cristina Aveiro

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Era uma vez um pastor que vivia numa aldeia com casas branquinhas. Num dia de chuva o pastor saiu de casa e encontrou uma ovelha preta na aldeia.

A ovelha sentia-se muito triste porque estava sozinha, não tinha nada para fazer, não tinha nenhum amigo ao seu lado. A ovelha preta tinha-se perdido da sua família porque naquele dia de chuva a família abrigou-se numa gruta nas montanhas perto da aldeia e a ovelha preta foi a única que ficou ali, não viu a sua família a fugir.

O pastor levou a ovelha para sua casa. A ovelha viu que o pastor tinha um cão chamado Piloto. Lá fora atrás da casa a ovelha reparou que o pastor tinha muitas ovelhas. A ovelha pensou que talvez estivessem ali os seus pais e começou logo a procurar, mas não os encontrou. Todas as ovelhas do rebanho eram brancas!

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Quando era hora do jantar, a ovelha viu que havia cenouras e feno nas gamelas. Todas as ovelhas se regalaram com aquela bela refeição no enorme estábulo. Havia também uma grande pia em pedra onde caia a água fresca de uma bica e todas as ovelhas bebiam alegre e ruidosamente.

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No dia seguinte, o pastor e o Piloto abriram as portas do estábulo e levaram as ovelhas por um caminho estreito ladeado por muros de pedra solta. Depois de muito caminhar chegaram a uma encosta cheia de ervas, muitos trevos, pampilhos, saramagos e muita água fresca de um ribeiro que por ali passava.

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Estavam todas a comer a erva deliciosa quando a ovelha preta viu ao longe nas montanhas um grupo grande de ovelhas pretas. A ovelha preta desatou a correr para lá e correu, correu e correu sem nunca parar. O Piloto bem correu e ladrou atrás dela, mas nada a fazia parar.

Quando a ovelha preta chegou perto do rebanho desatou aos pulos e a balir:

- Méee, mée, mé,… sem parar.

Os pais, os irmãos e os avós estavam muito, mas mesmo muito felizes por a ovelha preta ter voltado e por a família estar novamente junta.

O Piloto e o pastor ficaram a ver o reencontro e o pastor chorou de alegria.

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Hoje estive com o meu sobrinho Francisco e desafiei-o a contar uma história! Esta semana na escola o Francisco ouviu o conto "A ovelhinha preta" de Elizabeth Shaw e foi inspirar-se no que escutou. Foi um momento tão bom escrever o que fomos inventando.

04
Jun21

A menina descalça

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 3

Cristina Aveiro

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Foto: Artur Pastor

Andava sempre descalça, como as restantes crianças da aldeia. Os seus pequenos pés estavam habituados à dureza do chão, ao calor e ao frio e pareciam nem sentir as pedras do caminho. Apenas quando ia à cidade reparava que havia pessoas que usavam tamancos ou sapatos e botas nos pés. Havia também a professora e o senhor padre que nunca tinham os pés descalços.

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Foto: Artur Pastor

Um dia a sua madrinha disse-lhe que lhe ia mandar fazer uns tamancos com a pele do porco que iam ter na matança. A pequena ficou contente com a ideia de ter umas tamancas, mas o que mais a entusiasmou foi a festa da matança. Era sempre um dia especial em que havia carne fresca para todos, em que faziam as morcelas e as chouriças. Era uma festa com a família e os vizinhos, até se comprava pão branco em vez da broa que coziam sempre. Quanto às tamancas, talvez fosse bom, afinal via muitas mulheres na cidade a usá-las.

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Foto: Artur Pastor

Veio o dia em que teve de ir ao sapateiro para tirar as medidas para fazerem as ditas tamancas e depois mais tarde a madrinha chamou-a lá a casa para lhe entregar o presente. A menina chegou e ficou encantada com as tamancas novas. Eram de madeira clara com tachas reluzentes e a pele do porco também era clara e limpa. Eram mesmo bonitas! A madrinha disse-lhe para ir lavar os pés à bica da represa junto à casa para não as calçar com os pés sujos. A menina assim fez e depois calçou-as com todo o cuidado. Não sabia o que devia esperar porque nunca tinha calçado nada e sentiu logo os seus pés aprisionados em algo duro, muito duro. A madrinha perguntou-lhe se gostava e se estava contente. A menina disse que sim, que gostava muito. Estava convencida que devia ser por não estar habituada e com o tempo ia ficar melhor com as lindas tamancas.

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Saiu de casa da tia e ao caminhar para casa parecia que o chão do caminho tinha pedras como nunca, sentia todos os altos e baixos e tudo isso lhe magoava os pés por baixo. Na parte de cima a pele grossa do porco roçava-lhe a pele delicada que ia desaparecendo à medida que caminhava. Ainda não tinha chegado à fonte que ficava a meio do caminho e já tinha duas enormes feridas a sangrar no peito de cada pé. Os seus pés parecia que andavam aos soluços de forma desconchavada dentro das tamancas e não havia maneira de andarem em ritmo certo. A dor que sentia na planta e no peito dos pés tornavam o caminhar cada vez mais difícil, mas a menina não se atrevia a descalçar-se como tanto lhe apetecia. O que iriam dizer as gentes da aldeia, pensariam que não tinha gostado do valioso presente da madrinha. Ela não queria dar esse desgosto à madrinha e lá foi caminhando a custo até que chegou a casa.

Assim que entrou descalçou-se e disse para as tamancas:

- Não aguento mais convosco!

Ao mesmo tempo que o dizia atirou com elas para longe. A mãe e o pai que já estavam ao borralho nos bancos corridos da lareira grande ficaram admirados com a atitude da menina que não era dada a explosões. Perguntaram o que se passava, porque tinha mandado as tamancas e porque não aguentava com elas. A menina mostrou os seus pés ensanguentados e feridos e disse o quanto lhe doíam os pés e que nunca mais queria usar tal coisa. Nunca as pedras do chão a tinham magoado tanto, nem mesmo quando dava uma topada nalgum seixo mais levantado que não tivesse visto. Estava dito, não as queria mais.

Os pais tiveram pena da sua menina, ela que estava tão contente por ir ter as tamancas agora não se estava a dar com elas!

Então o pai disse-lhe que a madrinha não lhe tinha dado uns tamancos, deviam ser era umas salgadeiras como as de pôr a carne do porco porque afinal lhe tinham posto a carne à vista… A menina bem sabia que o pai estava a brincar com ela para que não levasse o assunto tão a sério, mas não achou graça nenhuma, continuava zangada com as tamancas. Então o pai voltou à carga e disse-lhe que se os seus sapatos lhe tivessem feito aquele serviço aos pés que os mandava para o lume e nunca mais os queria ver.

Ainda o pai não tinha acabado de dizer já a menina fazia voar as tamancas para o lume. O pai nunca imaginara que a menina fosse passar aos atos e muito menos com aquela rapidez. De um salto pegou na tenaz e salvou as tamancas do lume, afinal eram novas e tinham sido caras.

A menina disse para fazerem o que quisessem com elas, mas que aos seus pés nunca mais voltariam.

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Foto: Artur Pastor

Texto no âmbito do Tema 3 do Desafio dos Pássaros - 3.0 que nos dava como mote "Não aguento mais contigo! - afirmou enquanto o atirava para longe.

Este texto vive no Portugal descalço dos anos 50, onde nalgumas cidades foram criadas multas para os que lá circulassem sem calçado. Como se fosse uma questão de escolha e não de uma pobreza extrema. Queria esconder-se essa pobreza aos olhos de alguns citadinos talvez. 

 

 

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