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Contos por contar

Contos por contar

26
Dez20

Manhã de Natal

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma menina que dormia muito pouco tempo em cada noite, mas os pais queriam que ela dormisse muitas horas porque diziam que era muito importante. Dormir era importante para crescer, para estar bem disposto, para o corpo funcionar bem, enfim para tudo, até o doutor da menina dizia o mesmo.

A menina esforçava-se muito para agradar aos pais e fazer o que diziam que era importante, mas com o sono isso era um verdadeiro pesadelo. Queriam que se deitasse cedo, para “Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer!” e lá tinha que ser.

A menina ia para a cama, ouvia a história que os pais lhe contavam e depois de apagarem a luz, lá ficava ela sossegada, a olhar para as estrelas, a escutar o sussurro das conversas calmas dos pais, ela achava que até ouvia os irmãos pequenos a fazer o barulho de dormir no quarto ao lado. Ela ia ficando a olhar para as estrelas, ou a Lua, via o bailado das nuvens nas noites mais escuras e lá ia ficando mais sonolenta e quando os pais finalmente iam dormir ela entrava definitivamente no mundo dos sonhos.

Há muito tempo que a menina tinha pedido para deixarem sempre a persiana do quarto subida para ela poder sentir a luz do Sol quando ele acordava e assim ela ir sentindo a luz devagarinho a ficar cada vez mais forte. Quando começava a clarear era como se o Sol a estivesse a chamar devagarinho pelo nome com muita doçura porque não havia luz mais doce que a do Sol a nascer.

Muitas vezes a menina acordava bem antes do Sol começar a nascer, mas ficava na sua caminha à espera que o Sol acordasse.

Na manhã fria do dia de Natal acordou antes do Sol, ficou a olhar para o céu escuro da noite e houve uma estrela com um brilho tão forte que ela não conseguia parar de olhar para ela. A menina tinha a certeza que era uma estrela porque cintilava, parecia estar a “piscar”. Fora o avô que lhe ensinara numa noite de Verão em que estavam acampados num vale enorme sem luzes nem pessoas. Ela deixou-se viajar no tempo e recordou essa noite quente, o avô a mostrar-lhe a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Estrela Polar, tinha sido mágico. O avô era agricultor e conhecia muito bem o céu da noite, as Luas e essas coisas importantes das pessoas que vivem na natureza e que têm de a respeitar e viver de acordo com os seus ritmos. O avô que agora também era uma estrelinha no céu, também lhe tinha ensinado que as estrelas não se movem, é preciso esperar horas para as ver mudar de sítio no céu, como acontece com o Sol, que afinal também é uma estrela.

Enquanto passeava nestes pensamentos, continuava a olhar para a estrela branca com o brilho muito forte, e a estrela parecia que estava a rodar em pequenos círculos movendo-se rapidamente. A menina pensou que talvez fosse um avião, mas não podia ser porque estava sempre à volta do mesmo sítio, não ia para lado nenhum como fazem os aviões. Oh! Como ela queria ir chamar o pai e a mãe para verem aquela estrela tão diferente para verem, talvez soubessem o que se passava, mas ainda estavam a dormir, estavam todos a dormir e só havia silêncio.

A menina deixou-se ficar sempre a olhar para a estrela, queria guardar aquele momento, aos poucos começou a chegar ao de leve a luz do Sol e aos poucos a estrela ficou escondida pelo brilho do Sol.

Quando todos acordaram e os seus irmãos foram a correr para a sala para os presentes de Natal, a menina foi a correr para a cama dos pais para lhes falar da estrela daquela manhã. Os pais escutaram com atenção e disseram que nunca tinham visto nada assim, mas que iam investigar. Perguntaram à menina se não ia descer para ver os presentes. Ela disse que já ia, mas que ver aquela estrela luminosa, irrequieta e diferente tinha sido a melhor surpresa daquele Natal. A menina disse que se tinha sentido como quando estava com o avô a mostrar-lhe as estrelas e a ensinar-lhe os segredos que sabia sobre o céu da noite.

Os pais deram um abraço apertado à menina e sentiram uma alegria enorme. Quem disse afinal que as crianças querem muitos brinquedos no Natal? Quem podia dar um presente assim tão especial à sua menina?

Afinal as memórias doces do Amor do avô foram o melhor presente!

Afinal talvez o que as crianças querem no Natal é atenção, tempo sem contagens, partilha de saberes, fazer coisas boas juntos, ver a natureza, amar este nosso Mundo com calma…

O único presente verdadeiro que damos às crianças são as memórias boas que vamos construindo juntos.

12
Dez20

A Casa Sem Fim

Cristina Aveiro

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Era uma vez um casal de idosos que tinham uma casa na praia. Era uma casa estranha porque parecia que continuava sempre a estar em construção. Eles tinham começado a fazer aquela casa quando ainda era muito novos e nem sequer tinham filhos. Fizeram os projetos, vieram os pedreiros, construíram e puseram o telhado, as janelas, a porta. Mas havia partes da casa que continuavam por completar, o portão da garagem era feito de tábuas da obra, pelo quintal estavam tábuas, andaimes, a máquina de fazer a massa, areia, cimento, as varandas não tinham grades,… enfim estava meio feito, meio por fazer.

Durante muitos anos tudo ficou assim, parecia que o tempo tinha parado, que tinham interrompido o filme. As persianas das janelas já estavam a ficar velhas, as paredes da casa já tinham rachas e havia zonas onde tinha caído a cobertura das paredes como acontece nas casas muito velhas, mas aquela casa era estranha, por um lado já estava velha, mas por outro lado, ainda não estava terminada.

Um dia o casal voltou e instalou-se no primeiro andar da casa. Começaram a trabalhar os dois na casa. Primeiro retiraram o telhado, as telhas, a estrutura, depois começaram a erguer paredes e construíram mais um andar, e a seguir ainda outro, e a cobertura. Esta nova zona tinha aberturas de janela muito maiores, mais modernas, mas em baixo tudo estava na mesma. Até o portão da garagem provisório em tábuas continuava lá.

O senhor costumava andar com um gorro vermelho na cabeça, botas grossas e calções compridos, a senhora usava lenços na cabeça, calções longos e camisolas largas de trabalho. Estavam sempre só os dois a trabalhar, a subir os materiais com um pequeno guincho, a acabar uma parede, a montar um andaime, … Tudo era calmo na forma de eles trabalharem e era também estranho e diferente. A senhora estava a pintar a parede do lado de fora da zona mais alta da casa, mas ao lado havia uma zona onde os tijolos ainda nem sequer tinham sido cobertos com massa.

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Quando as pessoas passavam por ali ficavam sempre a olhar e estranhavam aquela casa que era diferente de todas as que tinham visto. Às vezes eles almoçavam no topo da casa num terraço em construção, pareciam estar numas férias de sonho, tal era a alegria que transmitiam a quem os via.

Os anos foram passando e aqueles idosos continuavam sempre os trabalhos, iam acabando as zonas novas que tinham construído na sua forma desordenada que costumavam seguir. Quando tudo o que estava de novo ficou terminado começaram a reparar e a remodelar as zonas mais antigas que já precisavam de obras. Agora os trabalhos andavam muito mais lentamente, eles estavam mais velhos, tinham menos força e energia, mas continuavam a trabalhar.

Veio um dia e eles não trabalharam, depois outro e outro e continuaram a não ser vistos nas suas tarefas de construção. Os vizinhos das casas à volta estranharam e foram ver o que se passava. Os idosos estavam na casa, sentados, com um ar muito desanimado e triste. Os vizinhos perguntaram o que se passava e eles disseram que já não conseguiam fazer os trabalhos na casa porque os seus corpos já não tinham energia e força e que não  terminar a casa antes de morrer os deixava muito tristes.

Os vizinhos sentiram que tinham que ajudar a cumprir o sonho daqueles idosos que há tantos anos os intrigavam com as suas estranhas obras intermináveis. Organizaram-se em equipas e depois de escutarem os planos que o casal tinha por concretizar puseram mãos à obra.

Como eram muitos conseguiram terminar tudo o que estava planeado em menos de um ano.

Finalmente a casa estava terminada, era estranha e diferente de todas as daquela praia, e mesmo de todas as praias conhecidas.

No jardim da casa fizeram uma grande festa para alegrarem o casal de idosos que estava contente e agradecido. A casa passou a atrair visitantes e todos os locais para a verem, e durante alguns anos ainda podiam ver o casal de idosos que descansava na varanda orgulhoso da sua obra. Os vizinhos passaram também a fazer parte dos últimos anos da vida do simpático casal.

Quando morreram a casa foi oferecida àquela comunidade para servir de abrigo às pessoas que precisavam e também para as crianças virem para aquela praia para colónias de férias.

07
Dez20

O que queres no Natal?

Cristina Aveiro

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Era uma vez um menino chamado Fernando que por ser pequeno e muito franzino todos chamavam Fernandinho. Tinha o cabelo liso lourinho, os olhos castanhos e meigos, uma cara esguia e um corpo magro. O Fernandinho tinha uma energia infindável e adorava andar a brincar com os amigos na escolinha. O pai trabalhava muitas horas numa fábrica e a mãe era cozinheira numa escola e ao fim de semana trabalhava também num restaurante. Fernandinho e os irmãos passavam muito tempo uns com os outros em casa e a brincar na rua com os vizinhos.

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Quando o menino foi para a escolinha aos cinco anos adorou conhecer tantos meninos novos e aos poucos foi percebendo que alguns passavam muito tempo com o pai e com a mãe, que iam a sítios, cidades grandes, castelos, até havia meninos na escolinha que já tinham andado em aviões. Muitas vezes quando estavam todos na roda a contar coisas que tinham feito os seus novos amigos diziam coisas que o Fernandinho não entendia, usavam palavras esquisitas. Ao princípio ele fingia que estava a perceber tudo, mas ao fim de algum tempo começava a sentir que não fazia parte daquele grupo e a sua carinha magra ficava fechada e sombria.

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A professora, atenta, notava a tristeza do Fernandinho e perguntava-lhe o que se passava. Ia dizendo que não era nada, mas como ela insistia ele ganhou coragem e disse muito rapidamente:

- Não estou a perceber nada do que a Francisca está a contar. Ela diz que foi a uma Lagoa e eu nunca ouvi falar disso, diz que é perto da Foz do Arelho e eu não faço ideia do que é isso, ou onde é! Ela só fala palavras e mais palavras, estranhas, não são palavras das coisas que estamos sempre a ver e a fazer. Isso deixa-me zangado e triste.

A professora disse-lhe que ele devia sempre perguntar o que não entendia ou conhecia, e que as palavras eram como peças de um jogo que nunca acabava, tínhamos que ir juntado sempre mais e mais na nossa cabeça.

O Fernandinho ficou a pensar no que a professora tinha dito e passou a colecionar palavras como alguns dos seus amigos colecionavam cromos ou peças de jogos.

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Às vezes perguntava aos irmãos o que queriam dizer algumas palavras que tinha ouvido aos adultos, ou na televisão. O irmão mais velho sabia algumas mas outras não, então ele perguntava aos pais quando eles chegavam a casa. Os pais estavam sempre cansados e tinham muitas coisas para fazer quando chegavam a casa, o jantar, tratar da roupa, dar banho às crianças. Quando o Fernandinho perguntava sobre palavras estranhas que tinha ouvido eles nem sempre prestavam atenção, ou diziam que não sabiam, que tinha que se despachar para ir para a mesa, lavar os dentes, ir para a cama.

Mesmo quando o pai, ou a mãe iam até ao quarto dos meninos dar-lhes um miminho de boa noite e contar uma pequena história não tinham paciência para as perguntas do Fernandinho sobre palavras estranhas, nem sabiam o que lhe responder. Às vezes ainda nenhum dos meninos estava a dormir e já o pai ou a mãe tinha adormecido embalados pela história que estavam a contar.

Já era Dezembro e as ruas e os lugares estavam iluminados e cheios de estrelas, árvores, bolas e tudo o que era decorações de Natal. Os pais iam dizendo aos seus pequenos para se portarem bem para terem um presente no Natal. De vez em quando perguntavam o que é que eles gostariam de receber se se portassem bem. Os seus irmãos diziam que queriam carros de bombeiros, bicicletas, bolas, … mas o Fernandinho não dizia nada.

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Primeiro os pais não prestaram atenção, mas quando os avós e os tios começaram a fazer estas perguntas e o menino não dizia nada enquanto os irmãos tinham listas imensas de presentes que gostavam de receber,eles ficaram intrigados e até um pouco preocupados.

Começaram por insistir com o menino para que dissesse o que gostaria de ter, depois perguntaram se ele se tinha portado mal e por isso pensava que não ia ter nenhum presente, mas ele disse que não era nada disso. Continuava calado sobre esse assunto e os adultos pareciam ter-se esquecido do seu silêncio.

As músicas de Natal encantavam o menino, adorava quando na escolinha aprendia novas canções e cantava com os amigos, mas até nas músicas de Natal havia muitas e muitas palavras que ele nunca tinha ouvido. Algumas eram mesmo estranhas “divino”, “redentor”, “magos”, “manjedoura”, “fulgor”, “eterno”, … parecia que nunca mais acabavam. Quando falava com os amigos sobre isto, nem a Francisca sabia o que queriam dizer aquelas palavras. Como eram tantas e a professora andava tão ocupada a ajudá-los a fazer o presente de Natal para levarem para casa não tinha coragem de lhe perguntar.

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Num domingo, bem perto do Natal, com a família reunida em casa da avó lá voltou a conversa dos presentes. Nesse dia o menino encheu-se de coragem e sabendo que era estranho o presente que queria, disse:

- No Natal eu gostava muito de receber Palavras, palavras que não conheço, palavras que há de certeza. Já sei que há palavras para quase tudo. Há palavras para dizer as coisas difíceis que sinto no meu coração, há palavras para falar de lugares que nunca vi nem ouvi falar, há palavras para falar dos trabalhos complicados, para fazer brincadeiras, para ir pelo mundo todo conhecer o que há. Eu quero ter todas as palavras para poder saber mais, fazer coisas complicadas, ajudar pessoas, e para coisas que eu ainda não sei o que são, mas tenho a certeza que quero.

Os pais, os tios, os avós e os primos ficaram todos Sem Palavras, houve um enorme silêncio. Era um desejo tão diferente, nunca tinham pensado em nada parecido. Todos achavam que os meninos queriam muito brinquedos, coisas bonitas, roupas, enfim presentes que se compravam ou faziam, mas isto? Que estranho pedido de Natal! Como iam fazer? Queriam fazer a vontade ao Fernandinho, mas… era difícil.

Secretamente, decidiram que cada um ia arranjar palavras novas e desconhecidas para eles. Depois o pai e a mãe do Fernandinho escreviam num papel e procuravam descobrir o que queriam dizer e escreviam no mesmo papel. Naquelas duas semanas foi uma azáfama, palavras e mais palavras, procurar e procurar o que queriam dizer, e escrever. O papeis foram sendo guardados numa enorme saca de pano vermelha com uma fita verde que a avó costurou de propósito. Parecia quase o saco das prendas do pai natal. Não tinham contado quantas palavras tinham juntado, mas eram mais de cem, mais de mil, enfim, muitas.

Na noite de Natal, com a família reunida na ceia de consoada ao chegar a meia noite começaram a dar a cada criança o seu presente. Todos ficavam felizes com o carro, a bola, ou o que iam recebendo.

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O Fernandinho estava à espera de receber algo parecido com os irmãos e os primos. Quando lhe entregaram o enorme e volumoso saco vermelho maior do que ele ficou intrigado e curioso. Disseram-lhe que podia abrir, e ele assim fez e tirou um papel escrito. Ficou confuso, não estava a perceber. Então a mãe pediu-lhe o papel e leu:

- Gratidão – é o que sentimos quando alguém nos dá alguma coisa que queremos muito, ou quando alguém nos ajuda e nos faz sentir melhor.

Esta é uma das muitas palavras que todos juntámos para te oferecer.

O menino chorou de felicidade com aquele presente, era o melhor que alguma vez tinha recebido.

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06
Dez20

A Mafalda tem caracóis na cabeça

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma menina pequenina chamada Mafalda que tinha a cabeça cheia de caracóis, louros, muito apertadinhos e impossíveis de domar. A Mafalda era alegre, cheia de energia, gostava de dizer coisas engraçadas, de dar grandes abraços apertados, de dar uma sonora gargalhada. Todos gostavam muita da Mafalda e achavam que ela era muito bonita e amiga.

A Mafalda não gostava mesmo nada do seu cabelo, os seus caracóis até lhe tiravam um pouco da sua alegria. Nunca ia perceber porque chamavam caracóis às formas do cabelo. Ela detestava caracóis e caracoletas, achava-os nojentos com a sua baba verde que até deixava rasto por onde passavam. Quando lhe falavam dos seus cabelos aos caracóis ela imaginava a sua cabeça lisinha sem nenhum cabelo e totalmente coberta de caracóis e caracoletas a arrastarem-se e a deixarem-na cheia de baba, ou ranho de caracol. Um perfeito nojo.

Mafalda sonhava com os cabelos lisos das suas amigas e tentava esticar o seu cabelo, prende-lo em rabichos, rabos-de-cavalo enfim tentava de tudo mas o cabelo parecia sempre que estava aprisionado e depois do elástico explodia numa bola de caracóis em vez de cair sossegado como um rabo-de-cavalo. Os seus rabichos pareciam pon-pons, não eram nada como deviam ser.

A Mafalda também não gostava das sardas da sua pele, em especial na cara. De nada valiam os elogios dos adultos aos seus belos olhos verdes e à beleza da sua carinha arredondada, para ela só havia os cabelos e as sardas de que não gostava.

A menina cresceu, mas continuou a lutar com os seus cabelos sempre com esperança de eles se cansarem e ficarem lisos. Deixou-os crescer, aplicou cremes e produtos variados, esticou com o secador, usou mil maneiras, mas os seus caracóis continuavam lá, impossíveis de moldar ou domar. As suas amigas muitas vezes lhe diziam que gostavam de ter um cabelo como o dela porque era bonito e invulgar. Mas a Mafalda continuava a não gostar, ela queria mil vezes um cabelo vulgar como o de toda a gente e continuava a tentar obrigar o cabelo a parecer liso, mas continuava a não conseguir.

Quando já era crescida, mesmo adulta começou a perceber que o seu cabelo um pouco rebelde e cheio de força era até parecido com ela. Também ela não se deixava aprisionar por ideias em que não acreditava, ou por modas que passavam. Um dia deixou o seu cabelo à solta, permitindo-lhe que fizesse todos os caracóis que quisesse, que ficasse com o volume que lhe apetecesse, nem que a cabeça dela ficasse a parecer o planeta Terra.

Qual não foi a surpresa da Mafalda quando ao ver-se ao espelho, pela primeira vez gostou da moldura que os seus caracóis faziam ao seu rosto. E afinal os cabelos ruivos com caracóis até combinavam com as sardas que tinha no rosto e davam-lhe um ar alegre e cheio de energia. Parecia que afinal o que combinava com a sua personalidade eram mesmo os caracóis bem enroladinhos e as sardas com ar irreverente e bem disposto. Queria isto dizer que todo aquele esforço de tornar lisos os cabelos fora apenas um desperdício, os caracóis aprisionados não ficavam tão bonitos e não correspondiam ao que a Mafalda era.

Depois desse dia a Mafalda nunca mais prendeu os seus caracóis. Ela sabia que muitas vezes queremos tudo diferente do que temos e nem pensamos se o que temos é o que nos fica melhor. Quando alguém lhe dizia como eram bonitos os seus cabelos e que gostava era de ter também caracóis, a Mafalda dizia:

- Os teus cabelos são os que te ficam melhor, são os que combinam com a tua cara e com a pessoa que tu és.

E tu gostas dos teus cabelos? Eles combinam contigo?

 

Vitória, vitória, acabou-se a história.

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