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Contos por contar

Contos por contar

30
Ago20

Alvarinho, o cavalo-marinho

Cristina Aveiro

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Era uma vez, um cavalo-marinho que vivia numa pradaria de ervas marinhas no fundo da Ria Formosa. As águas tranquilas e salgadas da ria, subindo e descendo com as marés eram o sítio ideal para as plantas marinhas daquela vasta pradaria. Não se pense que as plantas marinhas são algas, nada disso, as plantas marinhas têm tudo o que as plantas têm, raiz, caule, folhas, flores e sementes, mas as algas não têm nada disso. Na pradaria marinha também há algas, mas são as plantas que desempenham o papel principal.

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Alvarinho era um cavalo-marinho de focinho comprido com a cabeça coberta por elegantes filamentos que estavam sempre a mexer. Era um peixe com uma carapaça óssea que revestia todo o seu corpo, o que o tornava impossível de comer por outros animais da ria. Graças a essa armadura podia dar-se ao luxo de nadar bem direito na vertical sempre muito devagar demorando minutos para andar apenas um metro. Como ele gostava mais de estar era mesmo parado, com a cauda enrolada numa planta de modo a que a corrente ou a força da maré não o arrastassem. Enquanto se deixava ficar preso na planta procurava apanhar vermes e plâncton que passavam junto a ele, sugando com a sua boca tubular. Ele apenas comia o que passava perto dele, não ia atrás da comida ou do que quer que fosse.

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Havia algo que fazia mover o Alvarinho, era a sua companheira de vida. Quando ela se aproximava encostavam-se, enrolavam as caudas e ficavam tempos infinitos numa dança que fazia parar a maré. Todas as primaveras a companheira deixava os seus ovos sair da sua bolsa na barriga para a bolsa do Alvarinho e era ele que guardava lá os ovos durante dois meses, ficando com uma barriga enorme. Os outros animais ficavam admirados porque são sempre as mães que tomam conta dos ovos, mas os pais dos cavalos-marinhos é que ficam grávidos, ao contrário do que acontece em quase todas as espécies.

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Quando por fim os cavalos marinhos bebés saiam para as águas da ria parecia que nunca mais acabava, nasciam sempre duzentos ou trezentos, minúsculos, muito frágeis e não havia nada que o Alvarinho ou a sua companheira pudessem fazer para os proteger. Tinham que confiar nas ervas da pradaria para os proteger, mas sabiam que muito poucos iam conseguir chegar a adultos, era muito dura a vida na pradaria e havia inúmeros perigos.

 Quando mudava de lugar, usava os seus olhos dos lados da cabeça, que se moviam cada uma para seu lado como fazem os camaleões para captar todas as cores do ambiente à sua volta. Conseguia mudar as cores do seu corpo para se confundir com a paisagem e se tornar invisível. Também neste aspeto ele era parecido com o camaleão, mas não sabia se ainda eram da mesma família.

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Alvarinho tinha um vizinho que era parecido com ele mas tinha o focinho pequeno, de resto era muito parecido, gostavam de fazer as mesmas coisas e enfrentavam os mesmos perigos. Todos os cavalos que viviam na pradaria estavam preocupados porque as ervas estavam a desaparecer, de vez em quando passavam redes a arrastar pelo chão e arrancavam as plantas. Essas redes eram mesmo uma catástrofe para os cavalos-marinhos porque se fossem apanhados não conseguiam nadar para fora delas e desapareciam para sempre da ria. Havia uma lenda antiga que dizia que um monstro enorme vinha à noite à ria para apanhar os cavalos marinhos e depois os secar e transformar em pó para fazer remédios em países longínquos, mas era uma lenda, Alvarinho não sabia se era verdade ou não.

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Ultimamente havia mais agitação na ria, era o barulho dos barcos a motor, mas o Alvarinho não sabia o que era, sabia apenas que as vibrações o deixavam inquieto. O que ele queria era o sossego das água calmas, ser embalado pelas correntes suaves da maré que traziam sempre alimentos até à sua boca, queria dançar com a sua bela companheira e lançar milhares de cavalinhos bebés para as águas da ria.

Eram sonhos simples e comuns a tantos animais, mas o que Alvarinho não sabia é que a sua pradaria da Ria Formosa era um dos poucos sítios onde os cavalos-marinhos ainda podiam viver selvagens no nosso planeta.

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Vê como os cavalos-marinhos nascem:

 

22
Ago20

A gaivota Graciosa

Cristina Aveiro

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Era uma vez uma gaivota chamada Graciosa que vivia na Ria Formosa. Graciosa era muito feliz, tinha os dias sempre preenchidos com voos pelos céus da ria e do mar. Nas manhãs gostava de passar tempo junto ao porto de pesca e de acompanhar os barcos na faina no mar. Gostava de voar bem alto sobre a ilha do Farol e as outras ilhas da ria com os seus areais dourados e polvilhados de conchas de todas as cores e feitios, de conquilhas, ameijoas, ostras, lingueirão, … seixos do mar polidos e arredondados em formas suaves. Na ria também gostava de ver os canais sinuosos que pareciam divertir-se nas suas formas curvilíneas sempre cheios de vida, aves, caranguejos, peixe, …

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Ao fim da tarde quem a quisesse ver era ir até à praia da ilha barreira em Cabanas de Tavira, frente à aldeia do outro lado da ria. Assim que o sol começava a estar muito inclinado, a luz ficava dourada e lá começavam todas a chegar, Graciosa e as outras gaivotas que por ali viviam. Era a hora das gaivotas, pousavam na areia e iam andando por ali. Desciam em voos planados e lentos parecendo que estavam a escolher o sítio ideal para pousarem. Estavam habituadas às pessoas que se espalhavam pela praia e que por esta hora já começavam a arrumar as suas coisas e começavam a ir até ao barco para regressar a casa. As pessoas eram bandos multicolores, de roupas brancas, amarelas, rosa vivo, laranja, turquesa num festival de cores alegres que desenhavam o Verão. Era normal ver as gaivotas a andar pela areia entre as pessoas e a desviarem-se delicada e eficazmente quando uma criança se aproximava demasiado.

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Graciosa e as amigas pesquisavam a areia para procurar pedaços de bolacha, de pão, de batata frita e um sem número de petiscos que só podiam encontrar no Verão na areia da praia. No resto do tempo na areia da praia não havia comida fácil e boa como esta, havia claro muito peixe no mar, nos barcos de pesca e no porto onde o peixe pequeno era mandado à água, havia as estrelas-do-mar, as ostras, as ameijoas, … Na verdade havia sempre comida em abundância, podia dar mais ou menos trabalho, mas havia sempre.

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Graciosa vivia no paraíso, tinha a ria, o mar, podia alimentar-se de animais vivos que recolhia da natureza mas sabia que noutros lugares havia gaivotas que se alimentavam em lixeiras, outras apenas dos restos de comida caída em cidades junto ao mar, ela nem conseguia imaginar como seria. Um dia, por engano, Graciosa comeu um bocadinho de plástico que estava na areia da praia e lhe tinha parecido pão. Ia quase morrendo com dores na barriga, durante dias nem conseguia comer ou voar. Agora, quer na praia, quer na ria ou no mar estava sempre atenta para ver se não comia coisas estranhas deixadas pelas pessoas por todos os sítios.

Mesmo no mar, à hora das gaivotas, elas também não se importavam com as pessoas que tomavam banho, mergulhavam em rápidos voos picados para apanhar pequenos peixes que ali nadavam mesmo na beira da água. Num destes fins de tarde Graciosa já tinha apanhado vários peixes e alguns até quase os deixava cair porque eram já um pouco pesados. Os banhistas estavam todos a vê-la pescar quando ela mais uma vez mergulha bem fundo e levanta voo com um peixe grande da cor da areia no bico, mas desta vez ela não conseguiu aguentar o peso dele e teve de o largar na água.

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O banheiro, que todos os dias de verão estava na praia, conhecia bem as gaivotas e a sua forma de pescar, levantou-se da areia e foi para o mar para o sítio onde a gaivota tinha deixado cair o peixe. As outras pessoas olhavam com curiosidade e Graciosa também via o que se passava lá do alto onde andava num voo planado muito tranquilo. O banheiro olhava para o fundo do mar, metia a mão na água e voltava a fazer o mesmo, até que finalmente levantou o braço bem alto com um linguado do tamanho da sua mão que tinha conseguido encontrar. Era o linguado que a Graciosa pescara mas que não conseguira levar consigo. As pessoas na praia estavam espantadas, nunca tinham visto nada assim. Elas acreditavam que quando contassem o que tinham visto ninguém ia acreditar e que iam pensar que esta era uma história inventada.

Graciosa e as amigas colaboravam entre si para avisarem quando havia comida, quando havia algum perigo, … estavam sempre a ajudar-se.

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Havia também conflitos, algumas gaivotas gostavam de impor a sua vontade e tentavam ocupar o sítio de outras, ou tirar-lhes a comida que tinham acabado de apanhar,… e nesses casos havia uma espécie de combate à distância com aproximações de bico em riste, voos rasantes tentativas de tirar a comida do bico alheio, mas em geral tudo se resolvia com estas demonstrações de força, sem haver contacto ou agressão. Muitas vezes a gaivota que estava a ser incomodada afastava-se em voo largo e porte orgulhoso, esvaziando os motivos da disputa. Nos casos mais graves vinha também o par da gaivota ajudar na sua defesa. Eram pares para toda a vida e todos os anos criavam novas ninhadas nos seus ninhos escondidos no chão ou em penhascos altos. Eram os mesmos pares e usavam sempre o mesmo ninho, havendo comunidades com as mesmas gaivotas ao longo de anos.

Uma das coisas que a Graciosa mais gostava de fazer era pousar num ponto alto, num poste de um amarradouro e ficar simplesmente ali a olhar para o mar e para o horizonte, nunca se cansava porque o mar nunca era igual, nem nunca parava e ela sentia que fazia parte do mar e do céu daquele lugar.

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05
Ago20

O Cisne dos Pés Pretos

Cristina Aveiro

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Era uma vez um cisne branco lindíssimo, com penas tão brancas e suaves que pareciam ser feitas de luz. Era alto, elegante, com um longo pescoço ondulante, flexível e gracioso. Quando nadava os seus movimentos pareciam fazer parte de uma dança clássica, mas quando caminhava sobre a relva tinha passadas lentas e firmes mas bamboleava-se para um lado e para o outro. A culpa era das suas enormes patas triangulares com as membranas entre os dedos. O contraste entre as penas e as pernas e os pés não podia ser maior porque as pernas e os pés eram admiravelmente pretos e destacavam-se muito da brancura das suas penas.

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A beleza do cisne enquadrava-se na perfeição no sítio onde vivia, um sítio encantado, mesmo mágico. O cisne dos pés pretos e a sua companheira viviam num campo enorme cheio de relva sempre verdinha e cuidada o ano inteiro. No campo havia enormes árvores centenárias com troncos muito grossos e contorcidos, havia alfarrobeiras, oliveiras, figueiras, nespereiras, … enfim uma enorme variedade das árvores do Sul. O campo tinha também inúmeras flores de todas as cores e era povoado por cheiros mornos e doces do rosmaninho, do alecrim, das folhas de figueira e também de relva fresca, muitas vezes acabada de cortar.

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O campo tinha também vários pequenos lagos que o cisne partilhava com várias famílias de patos pardos que eram bons companheiros. O andar desengonçado e desajeitado, as penas e o bico pardos tornavam ainda mais visível o porte real e majestático do cisne dos pés pretos.

O campo do cisne dos pés pretos de tão perfeito parece que é irreal, mas … existe. É na Quinta de Benamor, uma quinta centenária onde nasceu um campo de … golfe.

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O cisne dos pés pretos observa os jogadores de roupas multicolores sem perturbar a sua vida, fica a olhar para os estranhos ovos brancos redondos que os jogadores seguem pelo campo fora, dando-lhes pancadas com toda a força que eles até voam no ar. O cisne dos pés pretos não compreende o que eles fazem mas não se incomoda com os jogadores. Os jogadores são silenciosos, tal como os carrinhos em que andam e estão sempre mais interessados nos seus estranhos ovos do que na vida do cisne. O único barulho que os jogadores fazem é quando batem com toda a força nos ovos e eles voam até junto das bandeiras brancas.

Havia, contudo, uma jogadora que olhava para o cisne dos pés pretos com atenção e carinho. Dia após dia vinha ao campo, ia-se aproximando do cisne e ele não se afastava. Um dia ela trouxe umas sementes na mão estendida e ficou ali à espera a ver o que acontecia. O cisne dos pés pretos foi andando muito devagarinho, passo após passo até chegar perto da senhora mas sempre um pouco receoso. Mantendo a máxima distância, esticou o seu longo pescoço o mais que pode e comeu. Era delicioso, a erva que comia no campo era boa mas aquelas sementes eram irresistíveis.

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Assim começou um novo ritual dos dias do cisne dos pés pretos, a senhora chegava com as suas sementes e o cisne ia ter com ela para as comer todo feliz. Passou o Outono, o Inverno e o cisne dos pés pretos já nem passava sem aquele momento especial do dia. Um dia a meio da Primavera a senhora não apareceu. No dia seguinte também, e passou a ser sempre assim.

Alguém disse que a senhora tinha voltado para a Suécia para passar lá o Verão, mas claro que isso o cisne dos pés pretos não podia saber nem entender.

Os dias continuaram a passar felizes para o cisne, passeando no campo junto aos jogadores, nadando nos lagos e bailando com a sua companheira. O tempo começou a arrefecer e num dia igual ao anterior o cisne dos pés pretos viu chegar junto ao arco das heras… a senhora das sementes. O cisne dos pés pretos foi a correr até à senhora, os jogadores no campo voltaram-se admirados com a rapidez do cisne e não percebiam o que se estava a passar.

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Quando o cisne chegou junto à senhora e ela lhe voltou a estender a mão com sementes ele comeu com alegria.

O cisne dos pés pretos ficou muito feliz com o regresso da senhora e ficou a pensar:

- Será que ela volta amanhã ?

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04
Ago20

As melhores férias em 100 palavras - desafio lançado por Ana de Deus

Cristina Aveiro

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Formentera, o meu amor, as minhas meninas, a mana Guida e o marido. Uma casinha branca sobre a praia, rodeada de pinheiros mansos. Muito próximos da natureza, vi coelhos bravos a saltitar por ali. Andávamos de lambreta. A pequena ilha tem a praia mais bonita do mundo, o Levante, que era só nossa. Água quente e cristalina mesmo em profundidade, ondas brincalhonas, areia branca, sol, calor e brisa.
Ao lado, Ses Illetes, areia meio rosada das conchas, postal azul de mar tranquilo e iates brancos.
No Pirata, desejamos a langosta con patatas fritas,... não provámos. Sonhamos voltar, cumprir o desejo!

 

https://rainyday.blogs.sapo.pt/desafio-as-melhores-ferias-124616

01
Ago20

Mestre, o cão de água português

Cristina Aveiro

 

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Há muito, muito tempo, numa terra quente, de mar calmo, cheia de luz, viveu o Mestre que era um trabalhador incansável, sempre pronto a acompanhar e ajudar o seu dono.

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Mestre ia todos os dias para a faina da pesca com o dono e os seus companheiros num pequeno barco de madeira a remos, sempre cheio de redes que o dono e os outros pescadores faziam com corda e umas agulhas especiais feitas de cana.

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Mestre ia sempre à popa do barco muito atento, cheirando as águas do mar e ladrando quando sentia o aroma dos cardumes para que o dono lançasse as redes. Às vezes caia um gancho ou um cesta ao mar e prontamente o Mestre saltava do barco, nadava e recolhia o que tinha caído. Quando o Mestre nadava tudo era harmonia e coordenação, costas bem direitas, pernas e braços a nadar, parecia uma pessoa e não um cão a nadar. Na verdade ele não nadava à cão. Como era um cão pescador, um cão de água e tinha umas patas especiais e diferentes das dos outros cães, ele tinham membranas entre os dedos das patas, como os patos ou outros animais nadadores. Mestre era muito rápido a nadar. Às vezes os pescadores que sabiam nadar faziam apostas para ver quem consegui nadar mais depressa que o Mestre, mas… nenhum conseguia ganhar.

Quando era preciso mergulhar o Mestre ia sem medo, parecia que não precisava de respirar, mesmo quando ia muito fundo, mais de dois metros e aguentava muito tempo, porque… podia! Sim, o Mestre podia porque tinha uns super-pulmões com o dobro do tamanho dos dos outros cães e assim consegui guardar lá dentro o dobro do ar e aguentar muito tempo.

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Todos os barcos de pesca naquela terra do Sul tinham cães como o Mestre. Os cães de água eram sagrados para os pescadores, eram a sua riqueza, o seu bem mais precioso. Para os pescadores os seus cães eram mais um membro da família, por isso nunca podiam ser vendidos. Quando havia uma ninhada os cachorros eram oferecidos aos pescadores jovens para que juntos apurassem as artes da pesca.

Na pesca, muitas vezes quando os peixes se começavam a afastar da rede, Mestre nadava à sua volta de modo a que fugissem para dentro da rede. Mestre não descansava enquanto não tivessem conseguido uma boa pesca.

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Sempre que era preciso pedir ajuda a outro barco, ou a terra, Mestre não hesitava e ia fazer o que lhe pediam.

Mestre tinha um longo pelo preto encaracolado, que crescia quase até lhe esconder os olhos. Os seus olhos eram pequenos e escuros mas sabiam dizer mais do que muitas palavras.

O pelo do Mestre era cortado de modo a faze-lo parecer um leão, com o pelo longo no tronco e na cabeça, fazendo uma enorme juba e com o pelo curto no resto do corpo, excepto na ponta da cauda que terminava com um tufo de pelo longo. Não se pense que era por ser moda, ou para ficar bonito, tudo era feito para o Mestre ser ágil e estar protegido. O pelo curto atrás evitava que fosse pesado e tornava-o mais ágil a nadar. A grande juba protegia-o quando ele entrava na água fria depois de estar encalorado no cimo do barco ao sol escaldante. Senão fosse a juba, a diferença de temperatura podia ser fatal para o Mestre.

Os filhos do pescador adoravam brincar com o Mestre, diziam que era um cão tão forte que os protegia de todos os perigos em terra e no mar. Na praia depois da faina iam para o mar com o Mestre, mergulhos, corridas e risadas era tudo o que se podia ouvir. O pai orgulhoso dos seus rapazes, via como eles iam aprendendo a nadar vendo como o Mestre fazia.   O pescador cuidava das redes descansado enquanto os pequenos brincavam nas ondas porque ele sabia que o Mestre tomava conta e se fosse preciso ajuda ele ladrava a pedir.

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Quando o mar estava agitado no Inverno Mestre e o dono ficavam em terra e passavam longo tempo junto ao cais onde também estavam os outros pescadores. O dono remendava as redes e tecia redes novas, o Mestre corria pela praia e nadava. Os pescadores ficavam por ali com os seus cães, contavam histórias do mar e da faina. Havia um pescador idoso, um verdadeiro lobo do mar, que já não podia ir nos barcos mas continuava sempre pelo cais a ajudar, a contar histórias antigas, muitas do tempo dos seus avós, que já lhes tinham sido contadas pelos pais e avós. Os pescadores sabiam muitas coisas mas não sabiam ler, nem tinham livros, tudo era ensinado na família e pelos companheiros mais idosos e sábios.

O velho lobo do mar dizia que os cães de água descendiam dos cães dos romanos chamados cão leão e que há mais de 2000 anos que estes cães eram inseparáveis dos pescadores. Como era um ansião todos o respeitavam e escutavam embora talvez nem todos acreditassem, mas para eles não importava há quanto tempo os cães pescadores existiam, o que importava aos pescadores era que os cães de água estavam lá desde sempre com eles e iriam estar para sempre. Afinal como poderiam pescar se não tivessem os seus cães? Sem a ajuda dos cães nunca conseguiriam pescar o suficiente.

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De vez em quando o Mestre interrompia as suas corridas na praia e voltava para junto do dono, ficava deitado sobre a rede a olhar para ele.

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O Mestre não entendia as conversas dos pescadores, mas sabia que ali era o seu lugar e era feliz.

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Este conto é uma homenagem ao cão-de-água português que é único e só passou a ser mais conhecido em Portugal quando o presidente Barck Obama adoptou um casal, o Bo e a Sunny. A escolha deveu-se ao facto de a raça ser adequada a pessoas com alergias porque tem apenas uma camada de pelo com características especiais.   

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Para saber mais sobre o cão de água português:

 

 

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