A Matilde e o gato - Ilustrada pela Matilde Aveiro
Era uma vez uma menina pequena chamada Matilde. A vida da Matilde girava à volta dos seus pais, do seu gato e das suas amigas que viviam na sua rua. Matilde vivia numa cidade pequena, numa rua sossegada com casas de um só andar com um pequeno jardim à frente e outro atrás.
O jardim era o seu pequeno reino, brincava lá horas sem fim com o seu gato sempre por perto. Gostava de lhe dar pequenas bolas que ele perseguia sem parar em grandes corridas. Outras vezes ficava a dar-lhe mimos e ele nunca se fartava. De vez em quando o gato gostava de saltar a vedação de madeira do fundo do jardim e ir sozinho até ao lago que havia ali perto. No fim do dia voltava sempre e batia com as patinhas na porta e miava até que o deixassem entrar. Em casa Matilde e o gato também eram inseparáveis, sempre que a menina estava a ler ou a desenhar lá estava o gato a ver tudo e a procurar algumas carícias.
A casa onde a Matilde vivia era bonita com as suas paredes brancas o pequeno alpendre de telha vermelha que abrigava a porta da entrada. Era uma casa pequena mas muito graciosa, tinha um telhado de telha vermelha com quatro águas, três janelas de guilhotina verdes com vidros pequenos, cada uma com doze quadradinhos. Também a porta da entrada era verde e tina uma pequena janela branca com quatro vidros. Para a Matilde a sua casa parecia uma casa dos contos de fadas e ela gostava de a imaginar no meio de um bosque e não na cidade.
Um dia os pais da Matilde deram-lhe uma grande notícia, ela finalmente ia ter um irmão, ou uma irmã, ainda não se sabia. A menina ficou muito feliz, muitas das suas amigas já tinham irmãos e ela queria muito, finalmente tinha acontecido.
Algum tempo mais tarde os pais disseram-lhe que iam ter de procurar uma casa nova para viverem porque naquela casa só havia dois quartos e o espaço era pequeno agora que iam passar a ser uma família de quatro. A menina não conseguia entender o que sentia. Estava muito contente por ir ter um irmão, mas muito triste por ir deixar a sua casa e deixar de estar perto das suas amigas. Porque é que não podia haver só coisas boas! Porque é que tinham de deixar aquela casa?! E se a casa esticasse? E se pudessem construir mais algum quarto para o bébé? Mas os pais pareciam muito decididos, tinham até dito que já estavam a procurar outra casa para todos.
A mãe da Matilde notou que a menina estava estranha, não se ria como antes e falava menos e ficou apreensiva. Decidiu perguntar à Matilde o que se passava mas a menina ao príncipio dizia que não era nada e não queria abrir o seu coração à mãe. A mãe perguntou-lhe se já não estava feliz por ir ter o irmão e a menina disse que estava muito feliz por isso, o que não queria era deixar aquela casa e aquela rua onde moravam e de que ela tanto gostava. A mãe abraçou-a e disse-lhe calmamente que também gostava muito daquela casa e que tinha vivido lá momentos muito felizes mas que tinha chegado a hora de procurarem uma nova casa, bonita e com espaço para todos serem felizes também lá. A mãe disse que podiam sempre voltar para vir brincar com as amigas e que elas podiam ir à nova casa porque os amigos iam continuar a visitar-se e a estar juntos. A mãe também lhe disse que podiam ir juntas procurar a casa nova e que a Matilde também podia ajudar a encontrar a casa para a família. A menina ficou mais animada e começou a fazer muitas perguntas sobre onde podia ser a casa, como a iam compar, o que ia acontecer à casa deles, enfim, foi um nunca mais acabar de conversa entre a mãe e a filha. A Matilde começou a pensar que talvez pudesse ser bom ter uma casa nova, começou a pensar como é que gostaria que a casa fosse… Ela gostava mesmo de ter um grande quarto no sotão com o teto inclinado e janelas para um jardim, gostava de ter uma varanda no seu quarto para poder sentar-se a ler ao sol com o seu gato por perto. Gostava que a casa nova tivesse uma lareira na sala para terem a magia da fogueira nas noites de inverno. Afinal talvez pudesse gostar de outra casa tanto como gostava daquela.
Depois de muita procura finalmente encontraram a casa perfeita e todos estava felizes. O pai e a mãe também tinham sonhos para a casa nova e tinham gostado dos sonhos da Matilde. A casa que tiham encontrado cumpria a maioria dos sonhos de todos e estava a chegar o dia da mudança. Ao longo da semana tinha sido uma azáfama de encaixotar e desmontar móveis e parecia que nunca mais acabava. Todos andavam um pouco perdidos com aquela confusão, o gato não era exceção, andava agitado e não conseguia estar sossegado nos seus lugares favoritos, estava sempre a ser incomodado. Andava até de mau humor, sempre a miar e a afastar-se.
No dia da mudança chegou uma enorme camioneta que levou todos os móveis e caixotes e quando finalmente estavam a entrar para o carro a Matilde não conseguiu encontrar o gato. Chamou por toda a casa, foi ao jardim, foi às casas das amigas lá da rua, foi ao parque do lago e … nada.
Tiveram de ir para a casa nova mas o pai disse que voltavam assim que pudessem para procurar o gato porque ele devia ter ido dar um passeio e regressava entretanto. A Matilde pediu para ficar na casa de uma amiga para continuar a procurar. As amigas disseram que o melhor era fazerem um anúncio com a foto do gato a dizer que se tinha perdido. A Matilde concordou e rapidamente fizeram os papéis e começaram a colar por toda a zona enquanto continuavam a procurar o gato. Apesar de todos os esforços o gato não apareceu naquele dia, nem no seguinte, nem no outro a seguir e a Matilde estava inconsolável.
Nunca deixaram de procurar, mas parecia que o seu belo gato cinzento de olhos verdes e cauda tufada tinha desaparecido sem deixar rasto.
O gato tinha ido até ao lago como costumava fazer muitas vezes, começou a andar atrás dos patinhos que andavam por lá a nadar, distraiu-se com os peixes vermelhos e foi andando a ver até onde eles iam. De repente, do meio do nada apareceu um cão a correr muito depressa atrás do gato e ele teve de correr e trepar a árvores e saltar vedações e continuar a correr sem parar, até que o cão desapareceu. Mas com tanta corrida, o gato tinha-se afastado muito e estava noutra zona da cidade que não conhecia. Como estava muito cansado enroscou-se e ficou a dormir debaixo de uma árvore muito grande.
Nos dias seguintes andou pelos jardins e espreitava às janelas para ver se reconhecia alguma daquelas casas, mas nada, não estava a conseguir encontrar o caminho para casa.
Alguns dias depois uma senhora com cara de avó chegou perto dele e começou a chamá-lo com carinho: bicho, bicho, bchs. Ele começou a aproximar-se, a senhora gostou logo dele por ser tão bonito e meigo. Depois de estar algum tempo com o gato a senhora começou a lembrar-se da fotografia que tinha visto na montra do café do parque do lago e começou a achar que este gato era parecido com a fotografia. Vendo bem, era mesmo muito parecido, devia ser o gato perdido.
A senhora deu-lhe um pouco de comida e o gato comeu muito depressa, via-se que estava cheio de fome. A senhora pensou que os donos de um gato tão bonito e meigo deviam estar muito tristes sem saber dele. Decidiu que ia ao café com o gato e ia tentar entregá-lo ao dono. O gato primeiro não queria ir com a senhora, mas aos poucos ela conseguiu agarra-lo e leva-lo com ela.
Na casa nova o telefone da mãe da Matilde toucava sem parar, a mãe atendeu e o seu rosto iluminou-se com um sorriso enorme. A mãe chamou a Matilde e disse-lhe que tinha optima notícia, tinham que ir depressa até ao lago porque estava lá uma senhora com um gato cinzento de olhos verdes, de cauda tufada e que pensa que era o gato da Matilde. A menina ria e chorava ao mesmo tempo, estava tão feliz, tinha a certiza que era o seu gato, mal podia esperar para o agarrar e o trazer para casa.
No jardim lá estava a senhora com o gato, e o gato era, claro, o gato da Matilde. Foi uma alegria para todos, o bichano não parava de ronronar ao colo da menina.
Quando voltaram para casa a menina disse à mãe que finalmente sentia que aquela era a sua casa, porque antes de ter lá o seu adorado gato, ela gostava da casa e das suas coisas boas, mas agora com o seu amigo peludo tudo estava mais perfeito.